Palitha Kohona, presidente do Comité Especial para Investigar as Práticas Israelitas que Afetem os Direitos Humanos do Povo Palestiniano, é representante permanente do Sri Lanka na ONU. A entrevista foi concedida despois da última missão no território de Gaza, onde -segundo as suas palavras- as crianças sofrem maus-tratos inaceitáveis a maos das forças israelitas de ocupação.

 
Como descreve o tratamento que as autoridades israelitas dispensam às crianças palestinas?

Palitha Kohona: O Comité chegou à conclusão de que as autoridades ocupantes não cumprem as suas obrigações legais internacionais para com os habitantes dos territórios ocupados. Por exemplo, o principal resultado do bloqueio de Israel à Faixa de Gaza foi converter 80% dos palestinianos em dependentes da assistência humanitária internacional. É admirável a perseverança dos moradores de Gaza, capazes de sobreviver com tão pouco, especialmente com a inadequada assistência de saúde, as severas limitações das suas atividades habituais, os frequentes cortes de eletricidade e os habituais incidentes de violência que marcam a vida quotidiana. O bloqueio israelita a Gaza é ilegal. As necessidades de segurança de Israel, sem dúvida, podem ser atendidas sem recorrer a algumas destas duras políticas. O bloqueio, segundo muitos, equivale a castigar coletivamente 1,6 milhão de palestinianos, e tem um impacto devastador nas suas vidas. Muitas testemunhas perguntaram se várias destas duras políticas são realmente necessárias para manter a segurança ou se, na realidade, estavam destinadas a exacerbar o sentimento de desesperança.

Considerando que estas violações dos direitos humanos são cometidas em territórios ocupados, equivalem a violar as convenções de Genebra sobre o tratamento a prisioneiros em situações de conflito?

Há destacadas personalidades que pensam dessa forma, e o Comité está de acordo com esta avaliação.

Israel alguma vez permitiu uma visita do Comité Especial para registar a sua versão dos factos? Em caso negativo, qual a desculpa apresentada?

Ao Comité Especial não foi permitido visitar Israel, nem os territórios ocupados de Cisjordânia e Jerusalém (oriental) ou as colinas de Golã. Israel não tem uma política de cooperação com o Comité.

O senhor visitou por três vezes a região na qualidade de presidente do Comité Especial. Qual a sua avaliação dos territórios ocupados?

A situação não melhorou significativamente. Em Gaza as importações estão 50% abaixo dos volumes anteriores ao bloqueio, e 85% das escolas de Gaza trabalham em jornada dupla. E como Israel proíbe quase todas as exportações de Gaza, sufoca-se o crescimento económico e diminuem os empregos. Entre 30% e 40% da população economicamente ativa da Faixa está desempregada. Aproximadamente 1,2 milhão de moradores de Gaza receberam assistência alimentar da Agência das Nações Unidas para os Refugiados na Palestina no Oriente Próximo (UNRWA). Além disso, 90% da água não é potável. Os negócios estão em ponto morto, sem possibilidade de importar novos equipamentos ou de exportar produtos. A pobreza afeta 39% da população, segundo o escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos.

O que a ONU pode fazer para melhorar a situação dos palestinianos nos territórios ocupados? Acredita que é impotente diante da intransigência israelita?

As agências da ONU desempenhou um papel importante para impedir que a situação humanitária se deteriorasse mais, porém, também sofrem a pressão da escassez de fundos, causada pela crise financeira mundial. Necessitam de mais financiamento por parte dos doadores.