Jonas Moffat                         Créditos da foto: Jonas Moffat

Mais três palestinos foram mortos e 611 feridos no final de abril, quando dezenas de milhares de cidadãos de Gaza continuaram seu grande protesto pacífico na fronteira com Israel.

Enquanto o número de mortes continua subindo – quase 45 mortos e mais de 5.500 feridos – o silêncio também continua. Notadamente, muitos daqueles que crucificaram os palestinos por utilizarem resistência armada contra a ocupação israelense, desapareceram, enquanto crianças, jornalistas, mulheres e homens são alvos de centenas de atiradores israelenses que patrulham a fronteira.

Oficiais israelenses estão inflexíveis. O ministro da Defesa, Avigdor Lieberman, vê sua guerra contra os protestantes desarmados como um guerra contra terroristas. Ele acredita que “não há mais inocentes em Gaza”. Enquanto o pensamento israelense não é surpresa, está encorajado por falta de ação significativa, ou pelo silêncio internacional para com as atrocidades que acontecem na fronteira.

A Corte Criminal Internacional (ICC), tem sido inútil até agora, tirando as declarações freqüentes feitas com jargões legais ambíguos. Sua promotora chefe, Fatou Bensouda, ridicularizou as matanças de Israel em uma declaração recente, mas também distorceu os fatos em uma tentativa de falar em pé de igualdade, para o deleito da imprensa israelense.

“Violência contra os civis – em uma situação como a que acontece em Gaza – pode constituir crime sob o Estatuto de Roma da Corte Criminal Internacional … assim como o uso de presença civil para o propósito de proteger atividades militares”,  ela disse.

Encorajado pela declaração de Bensouda, Israel está explorando a oportunidade de se esquivar dos seus próprios crimes. Em 25 de abril, um grupo de advogados de Israel, Shurat Hadin, queria indiciar três lideres do Hamas para a ICC, acusando o Hamas de usar crianças como escudos humanos nos protestos nas fronteiras.

É trágico que muitos ainda achem difícil captar a noção de que o povo palestino é capaz de se mobilizar, resistir e tomar decisão de maneira independente das facções palestinas.

De fato, por quase uma décadas a briga entre Hamas-Fatah, o cerco israelense em Gaza e com as várias guerras destrutivas, os cidadãos de Gaza foram deixados de lado, frequentemente vistos como vitimas desafortunadas de guerras e das facções, e sem nenhuma atividade humana.

Shurat Hadin, como Bensouda, estão todos alimentando esse discurso desumanizador.

Insistindo que os palestinos não são capazes de operar fora dos meandros das facções políticas, poucos sentem o senso de responsabilidade política ou responsabilidade moral para ajudar os palestinos.

Isso é reminiscente da palestra não solicitado do ex-presidente dos EUA, Barack Obama, aos palestinos durante seu discurso sobre o Cairo ao mundo muçulmano em 2009.

“Os palestinos devem abandonar a violência”, ele disse. “A resistência pela violência e a matança são errados e não têm êxito”.

Ele, então, ofereceu sua própria versão questionável da história sobre como todas as nações, incluindo “os negros da América”, as nações da África do Sul, Sudeste Asiático, Leste Europeu e Indonésia lutaram e conquistaram sua liberdade por meios pacíficos somente.

Essa aproximação humilhante – comparando as supostas falhas palestinas aos sucessos dos outros – sempre serve para salientar que os palestinos são diferentes, menos humanos, incapazes de serem como o resto da humanidade. Curiosamente, essa é a linha da narrativa sionista sobre os palestinos.

Essa noção é frequentemente apresentada na questão “onde está o Gandhi palestino?” O questionamento, normalmente feito pelos ditos liberais e progressistas, não é um questionamento, mas sim um julgamento – e um injusto.

Sobre a questão, logo após a última guerra israelense em Gaza em 2014, Jeff Stein escreveu na Newsweek, “a resposta se esvaiu na fumaça e nos escombros de Gaza, onde a ideia de um protesto não violento parece tão pitoresca como Peter, Paul e Mary. Os palestinos que pregavam a não  violência e lideravam marchas pacíficas, boicotes, estão quase todos mortos, presos, marginalizados ou exilados”.

Ainda assim, por incrível que pareça, está renascendo a raiva impenetrável e a dor incessante.

Dezenas de milhares de protestantes, levantando bandeiras palestinas continuam a realizar suas manifestações enormes na fronteira de Gaza. Mesmo com o grande número de mortes e os feridos, voltam todos os dias com o mesmo comprometimento com a resistência popular que é embasada na unidade coletiva, além das facções e da política.

Mas por que continuam amplamente ignorados?

Porque Obama não está tuitando em solidariedade aos cidadãos de Gaza? Porque Hillary Clinton não vai aos palcos para falar sobre a violência israelense?

É politicamente conveniente criticar palestinos e inconveniente dar crédito à eles, mesmo quando demonstram tanta coragem, valentia e comprometimento com mudanças pacíficas.

A autora famosa J.K. Rowling, tinha muito o que dizer ao criticar o movimento de boicote pacífico palestino, que busca responsabilizar Israel pela sua ocupação militar e violações de direitos humanos. Mas ficou em silêncio quando atiradores israelense mataram crianças em Gaza, e celebravam quando uma criança caía.

O cantor Bono da banda U2 dedicou uma música ao último presidente israelense Shimon Peres, acusado de inúmeros crimes de guerra, mas sua voz parece ter ficado rouca quando o menino de Gaza, Mohammed Ibrahim Ayoub, de 15 anos, foi morto enquanto protestava pacificamente na fronteira.

No entanto, há uma lição em tudo isso. O povo palestino não deveria ter expectativas com quem já falhou com eles constantemente. Crucificar os palestinos por falharem nisso ou naquilo, é um velho hábito, feito para responsabilizar os palestinos pelo seu próprio sofrimento, e para absolver os israelenses de qualquer malfeito. Nem mesmo o genocídio de Israel em Gaza vai mudar esse paradigma.

Ao invés, os palestinos devem continuar a contar com eles mesmos: focar na formulação de uma estratégia adequada que servirá a seus próprios interesses a longo prazo, o tipo de estratégia que transcende as facções e oferece a todos os palestinos um mapa verdadeiro da liberdade.

Por Ramzy Baroud

A resistência popular para um novo resultado, uma visão que irá garantir que o sangue de Mohammed Ibrahim Ayoub não seja derramado em vão.

*Tradução de Isabela Palhares para Carta Maior| Publicado originalmente no Counter Punch