O Alto Comissário para os Direitos Humanos da ONU, Zeid bin Ra’ad, defende que perseguição e crimes cometidos contra esta minoria étnica no Myanmar sejam julgados pelo Tribunal Penal Internacional.
Myanmar deve ser investigado por crimes contra os Rohingya, defende ONU
    ONU já tinha descrito a situação dos Rohingya como um “caso claro de limpeza étnica”. Foto de Saiful Islam.

 

 

Numa conferência de imprensa em Geneva, o Alto Comissário para os Direitos Humanos da ONU, Zeid bin Ra’ad, qie já tinha anteriormente descrito a situação dos Rohingya como um “caso claro de limpeza étnica”, defendeu que perseguição e crimes cometidos contra esta minoria étnica no Myanmar sejam julgados pelo Tribunal Penal Internacional. Pediu que o Myanmar permitisse a monitorização em zonas restritas, possibilitando assim a investigação do que se suspeita serem “atos de genocídio”.

Zeid afirmou que a melhor forma de desacreditar as alegações sobre ataques à população Rohingya passa por permitir a entrada das Nações Unidas no território. “O que dizemos é que existem fortes suspeitas de que estejam a decorrer, sim, atos de genocídio. Mas só um tribunal o poderá confirmar”, disse o Alto Comissário para os Direitos Humanos.

Um dia antes destas declarações, o Conselheiro Nacional de Segurança do Myanmar, Thaung Tun, veio a público dizer que, se estivesse a decorrer um genocídio no país, a minoria étnica já teria sido expulsa do território. “Ouvimos várias acusações sobre a existência de uma limpeza étnica ou mesmo genocídio no Myanmar. Já o disse anteriormente e irei repetir – essa não é a política do governo, isso posso garantir-vos. Embora existam acusações, gostaríamos de ver provas”, afirmou Tun.

 

 

Em declarações à Al Jazeera, Ro Nad San Lwin, ativista Rohingya, diz que é “muito importante que os líderes do Myanmar sejam acusados pelo Tribunal Pena Internacional”. Lwin disse ainda que há “mais de um milhão de Rohingya à espera de justiça. Há mais de quarenta anos que os militares e o Governo do Myanmar cometem crimes contra a humanidade e genocídio – não só contra os Rohingya, mas também contra os Kachin, Karen, Shan e outras minorias étnicas”.

Os Rohingya são considerados pelas Nações Unidas como uma das minorias étnicas mais perseguidas em todo o mundo, vítimas de discriminação pelas autoridades do Myanmar. Foram mais de 650 000 os membros desta minoria étnica que, desde agosto de 2017, abandonaram o país e fugiram para o Bangladesh após a perseguição militar no Estado de Rakhine. Os Médicos Sem Fronteiras estimam que só no primeiro mês tenham sido assassinadas 6 700 pessoas. Aqueles que conseguem escapar falam de violações, tortura e homicídios praticados por soldados.