Para entidades, assassinato reforça as estatísticas que tornam o Brasil um dos países mais perigosos para defensores da pauta
Marielle FrancoA vereadora engrossa as estatísticas de mortes de negros no país

Mulher, negra, pobre, da favela e defensora de direitos humanos. A morte da vereadora Marielle Franco (PSOL), na noite da quarta 14, no bairro do Estácio, centro do Rio de Janeiro, e do motorista Anderson Pedro Gomes, reforça as estatísticas que tornam o Brasil um dos países mais perigosos para negros e defensores de direitos humanos.

“Até na hora da morte Marielle continua sendo uma de nós, os vulneráveis. Ela é mais um exemplo inaceitável de que o Estado não protege a vida dos negros e dos que lutam por direitos humanos”, afirma Jurema Werneck, diretora executiva da Anistia Internacional. “Precisamos de uma resposta urgente do Estado”.

Negra, mulher, activista

No Brasil, a cada 23 minutos um jovem negro é morto, de acordo com o Mapa da Violência, da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso). O relatório de 2018 da Anistia Internacional também aponta para o alto risco de vida para o qual os ativistas de direitos humanos estão expostos. Em 2016, o país teve mais de um defensor assassinado a cada cinco dias no país e a mesma estatística no primeiro semestre de 2017. Os assassinatos de mulheres negras cresceram 22%, entre 2005 e 2015, sendo que no mesmo período, a mortalidade de não negras caiu 7,4%.

Werneck afirma ter recebido a notícia “com muita dor, uma dor terrível. Ela era uma negra da favela, uma ativista de primeira hora, profundamente engajada com a luta contra a violência da juventude negra”.

Socióloga, Marielle foi a quinta vereadora mais votada para a Câmara do Rio, com 46.502 votos. Em 28 de fevereiro, ela foi nomeada relatora da Comissão da Câmara de Vereadores do Rio, criada para acompanhar a atuação das tropas na intervenção federal.

Para o delegado Orlando Zaccone, da Polícia Civil do Rio de Janeiro, a morte de Marielle pode ser imputada “a todos que atacam os direitos humanos” e que reforçam o discurso de que a pauta “atrapalha a segurança pública”. Para ele, no campo de vista simbólico, a intervenção militar reforça o discurso de violência contra a população pobre. “A morte dela é um recado para as favelas. De que eles não podem resistir”.

Em 10 de março, Marielle escreveu em sua página de facebook “Precisamos gritar para que todos saibam o que está acontecendo em Acari neste momento. O 41 Batalhão da Polícia Militar do Rio de Janeiro está aterrorizando e violentando moradores do Acari. Nessa semana, dois jovens foram mortos e colocados em um valão. Hoje a polícia andou pelas ruas ameaçando os moradores. Acontece desde sempre e com a intervenção ficou pior. Compartilhem essa imagem nas suas linhas do tempo e na capa do perfil”.

Fonte: Carta Capital