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Lissette Orozco, a diretora de O Pacto de Adriana, era uma jovem estudante de cinema quando foi buscar sua querida Tia Adriana no aeroporto de Santiago e a viu ser presa logo na chegada. A imagem da tia bonita, elegante, tipo estrela de cinema, sempre desembarcando da Austrália cheia de presentes, começava a mudar subitamente.

Adriana era acusada de ser Chany, cruel torturadora a serviço da DINA de Pinochet.

Lissette começa a filmar. Conversa com a tia, que nega ter tido qualquer contato com presidiários. Que era apenas secretária bilingue, fazia transcrições, e curtia a vida de “rica” ao lado do primeiro escalão militar. Fotos a mostram de braço dado com Manuel Contreras, grande comparsa de Pinochet. Ao falar de seu trabalho, admite que recebeu treinamento para “arrancar informações” e “quebrar pessoas”. Ainda hoje acha que isso era necessário contra “os comunistas”. Daí sua contradição básica quanto a ter estado ou não com os presos.

Liss segue filmando e desconfiando. Sua obstinação e coragem não têm tamanho. Conversa com a mãe (solidária à irmã), a avó com Alzheimer, pesquisadores da ditadura, testemunhas diretas que estiveram com Chany. Obtém seguidas confirmações de que Adriana participava diretamente de sequestros e sessões de tortura. E era implacável.

Adriana foge para a Austrália violando a liberdade condicional. A sobrinha continua se comunicando com ela por Skype. A tia achava que o filme poderia ajudar a inocentá-la. Por isso aceitava filmar-se nas conversas com a sobrinha, assim como vendo reportagens contra ela na TV. Liss, ao que tudo indica, desconfia que o filme não vai ajudá-la, mas sim incriminá-la ainda mais. E segue investigando com um distanciamento que na verdade é uma forma de justiçamento.

O que se segue são confrontações excruciantes, ameaças e chantagens, na medida em que a situação de Adriana se complica cada vez mais. Lissette obtinha registros de tudo, não sabemos como. Por fim, quando o filme se encerra, ela terá cumprido magistralmente seu papel de documentarista e ido até o limite do possível como membro da família. Filmou o inimigo “dentro de casa”, uma façanha rara. E fez uma obra extraordinária, das mais contundentes e intimamente desafiadoras que um(a) cineasta pode fazer.

O pedido de extradição de Adriana Rivas está no Facebook. Ela safou-se até hoje por ser cidadã australiana.

Por Carlos Alberto Mattos

Fonte: Carta Maior