No dia 2 de novembro de 2017, completou-se 100 anos do momento que o secretário para Assuntos Estrangeiros do Império Britânico, Arthur Balfour, enviou uma importante carta ao Barão Rothschild, liderança sionista no Reino Unido, que deveria ser transmitida à Federação Sionista da Grã-Bretanha, marcando a história do Oriente Médio e do mundo. Na declaração de 1917, a Coroa britânica se comprometia com a criação de um lar nacional para os judeus na Palestina.

balfourO Conde Balfour, autor da carta no qual os britânicos se comprometiam com o movimento sionista

A mensagem vinha após duas décadas de lobby das lideranças sionistas com as grandes potências imperialistas, como os russos, alemães, austro-húngaros, franceses e ingleses, em busca de um aliado ao seu empreendimento colonial na Palestina, que vinha encontrando limitações financeiras e sofrendo com as restrições impostas pelo Império Otomano à imigração e ao nacionalismo judeu em seus domínios. Desta forma, os sionistas uniram os seus interesses ao projeto imperialista para o Oriente Médio, que havia sido secretamente definido um ano antes, quando britânicos e franceses assinaram o Acordo de Sykes-Piccot, no qual fragmentavam a região de forma a melhor dominá-la.

Esses eventos aconteciam nos últimos momentos da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), no qual França e Grã-Bretanha eram aliados na batalha contra os impérios alemão, russo e otomano. No front contra o Império Otomano, os britânicos demonstravam confiança na vitória principalmente por causa de um acordo firmado com importantes lideranças árabe.

1918_British_Government_Map_illustrating_Territorial_Negotiations_between_H.M.G._amd_King_HusseinO mapa do Estado árabe prometido pelos britânicos ao xerife Hussein

Em março de 1916, após meses de correspondência, o Tenente-Coronel britânico Henry McMahon, o responsável pela colônia inglesa do Egito, havia conseguido o apoio de famílias árabes na guerra contra os otomanos em uma troca de cartas com o líder de Mecca, Hussein bin Ali. Em contrapartida, os britânicos prometeram independência aos árabes na forma de um grande Estado, que corresponderia ao que hoje é a Península Árabe, Iraque, Síria, Líbano, Jordânia e Palestina/Israel. Ou seja, a Declaração Balfour, de 1917, possuía uma profunda contradição com a anterior Correspondência Hussein-McMahon, de 1916.

A história do comprometimento árabe com a guerra dos ingleses ficou famosa no filme ganhador do Oscar “Lawrence das Arábias”, que narra a história do tenente inglês T.E. Lawrence na Revolta Árabe de 1917 contra os otomanos. A revolta foi fundamental para a vitória das tropas lideradas pelo general Allenby contra os otomanos e na conquista de Istambul, Jerusalém, Damasco e Mecca. Da mesma forma, a insurreição foi a semente do que viria a ser, décadas mais tarde, o movimento nacionalista árabe, caracterizado pelo anti-imperialismo.

LawrenceO militar inglês T.E. Lawrence em indumentárias árabes durante a revolta de 1917

No entanto, uma vez terminada a guerra, os britânicos não cumpriram a sua promessa com os árabes, enquanto mantiveram a sua com os sionistas. Em 1918, sob o auspício da recém-criada Liga das Nações, são estabelecidos uma série de mandatos no Oriente Médio sob a responsabilidade das potências imperiais em fronteiras semelhantes as previstas no acordo de Sykes-Piccot. O mandato era uma espécie de regime de tutela, imposto sobre aqueles povos que os líderes ocidentais não viam como capazes de decidirem sobre a sua própria vida.

Desta forma, enquanto que os árabes ficaram submetidos à tutela europeia e sem a independência prometida, o Mandato Britânico na Palestina passou a facilitar a imigração de judeus e a promover alterações políticas e sociais sob os interesses da comunidade sionista. A contradição britânica trouxe os primeiros conflitos violentos entre sionistas e palestinos, estabelecendo as bases do impasse que prevalece até os dias de hoje.

Território da Palestina entre 1946 e 2012

Por Iara Haasz e Bruno Huberman

Fonte: Quebrando Muros