Certa noite de outubro de 2007, o presidente norte-americano George W. Bush discursava para um grupo de empresários no hotel Sheraton em Chicago. Ao mesmo tempo, do lado de fora do prédio, uma multidão feroz protestava contra as guerras iniciadas pelo seu governo. Indiferente à manifestação popular, o estadista caminha pelo hall cumprimentando algumas personalidades políticas importantes, quando, em meio a um tumulto, alguns tiros são disparados contra o presidente, que é assassinado em frente às câmeras.
Após colher as imagens com a imprensa presente, o diretor documentarista Gabriel Range resolve investigar os motivos que poderiam ter levado o assassino a investir contra George W. Bush. Com este intuito ele entrevista políticos, seguranças, funcionários do governo e demais figuras importantes que possam dar seu testemunho e opinião de quais motivações estariam por trás do assassinato do presidente norte-americano. Através desses depoimentos, o documentário vai revelando gradualmente a forte mentalidade anti-muçulmana presente nos norte-americanos, além de elucidar a virulência da política externa impulsionada pelo governo de W. Bush, provavelmente, o menos amado dos presidentes norte-americanos.
O documentário “A Morte de George W. Bush” é um documentário ficcional que procura mostrar como seria o mundo caso Bush fosse assassinado.
O falso documentário flutua entre a já conhecida atual política externa norte-americana e as suas conseqüências. Desde o atentado às torres gêmeas, a declaração de guerra contra o Afeganistão, a reeleição de Bush, a invasão do Iraque, tudo feito sob o falso pretexto de “guerra contra o terror”. O único elemento de ficção introduzido é o assassinato de George Bush. O objetivo do diretor fica claro. Após o assassinato do presidente, a já hostil democracia norte-americana torna-se ainda mais indigesta, tanto para sua própria população, quanto para seus alvos potenciais, no caso, as nações árabes.
Quando lançado nos Estados Unidos, o filme foi objeto de grande polêmica. O cineasta inglês, Gabriel Range, chegou a sofrer todo tipo de ameaças, inclusive de morte. Uma das mais destacadas críticas do filme foi [a atual candidata democrata à presidência dos Estados Unidos,] Hilary Clinton. Antes mesmo de assistir ao documentário ficcional, ela condenou a obra como “doentia e repugnante”.
O cineasta, ciente de estar lidando com um tema polêmico, procurou ser o mais cuidadoso o possível. O título original do filme é o menos chamativo “A Death of a President” (A morte de um presidente). As filmagens aconteceram em segredo, sendo que grande parte dos atores não sabia o nome da produção, nem mesmo sobre o que era o filme. Além disso, todos os atores utilizados no filme eram desconhecidos do grande público, cuidado que Range tomou para que o falso documentário parecesse mais convincente. “A principal orientação era de que ninguém exagerasse nas interpretações para não perder a veracidade. Afinal, quando vemos depoimentos de pessoas como essas na televisão, nenhuma apresenta uma postura exagerada”. Antes de receberem seus roteiros, os atores passaram também por uma preparação meticulosa em palestras e workshops, “Pedi para que não decorassem o texto, mas apreendessem o conteúdo e, no momento de rodar a cena, tentassem falar de forma espontânea.” Outro detalhe curioso da produção é que ela foi planejada para estrear exatamente no aniversário de cinco anos da queda do World Trade Center, ou seja, começou a rodar nos cinemas norte-americanos dia 11 de setembro de 2006. Porém, sobre sua produção Range declarou “Não é um filme antiamericano, tampouco uma crítica direta a Bush. Muito menos uma incitação a alguém cometer um ato tão bárbaro. É uma obra que trata de questões sérias a respeito do mais importante governo do mundo”. Apesar de todo o jogo de cintura do diretor, o filme ainda hoje, quase dois anos depois da estréia americana, é uma crítica pertinente à atual política genocida impulsionada pelo imperialismo na figura de George Bush, política que, diga-se de passagem, não mudou um milímetro nesse período.
A realização do filme com tal grau de realismo foi só possível graças ao avanço nas técnicas de efeitos especiais e de filmagem, pois o “personagem Bush”, foi conseguido graças a edições de imagem com o rosto do próprio presidente. “Fizemos uma série de fotomontagens e utilizei cenas que eu mesmo filmei quando o presidente passou por Chicago”, contou Range. “Na cena do assassinato, por exemplo, utilizamos três diferentes expressões de Bush de outros momentos”.
O filme foi orçado em 2 milhões, e só pôde ser realizado graças a um investimento estrangeiro, visto que nenhum dos produtores norte-americanos quis se arriscar.”Quando falei do projetonos Estados Unidos, os produtores acharam graça, mas ninguém colocou a mão no bolso”, brincou ainda o diretor. Ao ser lançado, o longa chamou atenção pelo tema polêmico e chegou a ser premiado no Festival de Toronto.

 

Fonte: Causa Operaria online