O número de livros proibidos em escolas e bibliotecas duplicou face ao ano passado. Texas e Florida lideram o ranking dos estados que baniram mais literatura.
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Expositor na biblioteca pública de Rochdale Village, em Nova Iorque. Foto da Biblioteca de Queens/Facebook.

 

 

Sob o lema “Os livros unem-nos. A censura divide-nos”, a Associação de Bibliotecas Americana organizou como é hábito desde 1982 a “Semana dos livros proibidos”. Bibliotecários, livreiros, editores, jornalistas, professores, escritores e leitores juntaram-se para defender a liberdade de exprimir ideias e a importância do livre acesso à informação e conhecimento.

Segundo a associação, este ano houve um recorde de tentativas para proibir ou restringir o acesso a 1.651 títulos, mais do dobro dos 729 identificados em 2021. A ONG Pen America fez a radiografia à situação em cada estado e concluiu que o Texas e a Florida são os campeões da proibição de livros.

As proibições são impulsionadas sobretudo por grupos radicais da direita norte-americana, como o Moms for Liberty – que chegaram a oferecer recompensas de 500 dólares a quem denunciar um professor que viole a proibição de ensinar “temas divisivos” sobre racismo, sexismo ou género no estado do New Hampshire – ou o No Left Turn on Education. A maior parte dos livros são da autoria de – ou tratam de – figuras ligadas às comunidades negra e LGBTQ e falam de temas relacionados com raça, racismo e sexo. Mas também há grupos assumidamente à esquerda, como o We Need Diverse Books ou o Disrupt Texts, que procuram impedir que livros com conteúdo que consideram racista ou misógino sejam leituras recomendadas nas escolas primárias e secundárias, propondo títulos alternativos que consideram mais adequados ao tempo em que vivemos.

No estado da Pensilvania, que ocupa a terceira posição na lista, com 457 livros proibidos em 11 agrupamentos escolares, um grupo de pais, estudantes e professores de Bucks County levou a campanha para as ruas de Doylestown este sábado, com um desfile de livros proibidos em que vestiam literalmente as capas dos livros proibidos pintadas em caixas de cartão.

 

 

A “Semana dos livros proibidos” contou com outras ações de sensibilização dos leitores, como a preparação de expositores em bibliotecas e livrarias com uma seleção de livros alvo de censura ao longo das últimas décadas nos EUA, como mostram estas imagens divulgadas pela Biblioteca Pública de Queens, em Nova Iorque.

Os livros mais censurados em 2021

O Gabinete para a Liberdade Intelectual, um organismo desta associação, compilou a lista dos livros mais atacados em 2021. Cinco dos dez títulos da lista são perseguidos por conterem conteúdo LGBTQIA+ e serem considerados sexualmente explícitos. Gender Queer de Maia Kobabe lidera a lista, seguindo-se Lawn Boy, de Jonathan Evison e All Boys Aren’t Blue, de George M. Johnson. Pela mesma razão, no nono e décimo lugar, constam This Book is Gay, de Juno Dawson e Beyond Magenta, de Susan Kuklin.

Por razões diferentes surge na quinta posição The Hate U Give, de Angie Thomas, proibido a acusado de conter profanidades e violência e também por alegadamente promover uma mensagem anti-polícia e a doutrinação de uma agenda social.

As descrições de abusos sexuais valeram a presença nesta lista aos livros Out of Darkness, de Ashley Hope Perez, na quarta posição, e na oitava The Bluest Eye, por conter descrições de abusos contra menores. Na sexta posição está The Absolutely True Diary of a Part-Time Indian, de Sherman Alexia, por conter profanidades, referências sexuais e uso de um termo depreciativo. Me and Earl and the Dying Girl, de Jesse Andrews, surge em sétimo lugar por conter cenas sexualmente explícitas e degradantes para as mulheres.

Contactada pela PEN America, a autora Ashley Hope Perez afirma que “quando as pessoas falam de Out of Darkness como se, por tratar de agressão sexual, por exemplo, será traumático para os jovens ou sobrevimentes de agressões sexuais, eu sinto-me tão frustrada porque tudo o que sabemos sobre o que precisam os sobreviventes é justamente o contrário: que é fundamental ter a linguagem para falar do que aconteceu. E ter a oportunidade de ver o mal nomeado enquanto mal é muito importante”.

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