Em 28 de julho de 1917, a Quinta Avenida, em Nova York, foi palco de uma das maiores demonstrações da luta pelos direitos das pessoas afroamericanas. Organizada pela NAACP (sigla em inglês para Associação Nacional para o Avanço das Pessoas de Cor), a Parada do Silêncio, como ficou conhecida a manifestação, reuniu pessoas negras norte-americanas em repúdio ao racismo. A manifestação comemorou 100 anos na passada sexta-feira (28/07).

Opera Mundi selecionou seis fatos para entender a marcha:

1. A Parada do Silêncio protestava contra linchamentos de pessoas negras por pessoas brancas nos EUA
A marcha em Nova York foi uma reação a uma série de linchamentos e assassinatos com motivações racistas de pessoas afroamericanas em várias cidades dos EUA. Episódios em regiões dos Estados de Texas, Tennessee e Illinois foram registrados e denunciados pela Parada.
Em 2 de julho de 1917, cerca de 3.000 homens brancos organizaram um ataque a pessoas negras na cidade de East St. Louis, no estado de Illinois. O incidente ficou conhecido como o “Massacre de East St. Louis”. No total, 6.000 pessoas negras tiveram suas casas e bens incendiados e mais de 100 pessoas foram assassinadas, segundo historiadores. O “massacre” é reconhecido como um dos maiores ataques ligados a questões raciais da história dos EUA.

2. Quase 10 mil pessoas participaram da Parada do Silêncio
Aproximadamente 10 mil mulheres, homens e crianças afroamericanas caminharam em silêncio pela Quinta Avenida, em Nova York, para protestar contra a violência racista nos EUA. As mulheres e crianças se vestiram de branco e tomaram a frente da marcha, seguidos pelos homens em seus ternos pretos.
A Parada seguiu pela Quinta Avenida até chegar à rua 57, para terminar seu trajeto silencioso na Madison Square.

3. Cartazes denunciavam massacres e lembravam a participação dos afroamericanos nas guerras dos EUA
Alguns cartazes que os manifestantes carregavam durante a Parada do Silêncio apontavam para os acontecimentos em Illinois pedindo “rezem pelos mortos de East St. Louis”. Outros diziam que “cor, sangue e sofrimento nos fizeram um só” ou questionavam “mãe, linchadores vão para o céu?”.
Cartazes lembrando a participação dos afroamericanos nas guerras dos EUA também estavam presentes na manifestação. “200 mil negros lutaram por sua liberdade na Guerra Civil”, em referência à guerra civil norte-americana, e “10 mil de nós lutaram na guerra Hispano-Americana”, lembrando o confronto entre Espanha e EUA no século 19.

4. Líderes da marcha queriam pressionar o presidente Woodrow Wilson com mensagens contra a Primeira Guerra Mundial
Durante o ano de 1917, os EUA estavam lutando na Europa ao lado de Reino Unido, França e do então Império Russo na Primeira Guerra Mundial. A Parada do Silêncio questionava a participação norte-americana no confronto, justificada pelo presidente Woodrow Wilson com um discurso de alcançar a democracia pela guerra.
Cartazes na manifestação questionavam: “Sr. Presidente, por que não tornar a América segura para a democracia?”, lembrando que, enquanto o confronto ocorria na Europa, pessoas negras eram assassinadas nos EUA.

5. Cartazes de divulgação da Parada do Silêncio explicavam “Por que nós marchamos”
Cartazes produzidos para a divulgação da Parada traziam os motivos que levavam à mobilização dos afroamericanos. “Nós marchamos porque […] as perigosas e difíceis barreiras do preconceito e da injustiça humana devem cair”, dizia o primeiro motivo. O texto ainda lembrava os massacres ocorridos em East St. Louis, Memphis, no Tennessee e Waco, no Texas.
“Nós marchamos porque nós nos opomos veementemente à segregação, discriminação, privação dos direitos, LINCHAMENTO e ao exército de maldades que nos são impostos”, afirmavam. Os organizadores também mencionavam no texto a esperança de que seus filhos vivessem em “uma terra melhor” e ainda lembravam pessoas que foram vítimas de violência racista, dizendo que “elas morreram para provar nossa dignidade de viver”.

6. Organizações convocaram manifestação para o aniversário de 100 anos da Parada do Silêncio
A NAACP, em parceria com organizações sociais norte-americanas, realizou na passada sexta em Nova York uma manifestação para lembrar o centenário da Parada do Silêncio. A “Peoples Silent Protest Art Walk” tinha a intenção de lembrar a marcha de 1917, refazendo o trajeto de cem anos atrás.
Para esta manifestação, os movimentos convocaram não só a comunidade afroamericana, mas também “imigrantes de todos os Estados e crenças religiosas, pessoas de cor e aqueles que se identificam como LGBTQIA, mulheres e aqueles com deficiências físicas”, de acordo com o site da marcha.