Segundo dados recentes do INE, a começo do 2022 havia 117.824 pessoas imigrantes censadas em Galiza; seguramente o número medrou ao longo do passado ano e haveria que engadir os muitos que estão sem censar. Em qualquer caso, é um dado que quadruplica a cifra do 2001, quando havia uns 25.602 imigrantes censados. Deste jeito, Galiza, de ser um país exportador de emigrantes foise convertendo nas últimas décadas numa sociedade que acolhe imigrantes; particularmente africanos, ainda que inçara também a presença dos latino-americanos.

 

A acolhida dos emigrantes africanos em Galiza

 

Os imigrantes representam já mais do 4% da povoação galega; estão maiormente nas províncias de Pontevedra e A Corunha.Além dos frios dados, interessou-me a realidade concreta desses imigrantes: qual é a sua situação, os seus problemas mais graves, desde o alojamento, o trabalho e a vida de cada dia, relações, etc. Sobretudo, a acolhida que lhes estamos a dar aos que estão em situação mais precária, os subsaarianos.

Apesar da mentalidade individualista da sociedade, temos numerosas pessoas e associações em Galiza que acolhem estes imigrantes. Ademais das estatais que fazem isto entre nós, como a Cruz Vermelha, Cáritas ou Accem (Asociación Católica Española de Migraciones), temos pequenas associações galegas que cumprem um valioso labor: Ecos do Sur, Ecodesarrollo Gaia, Renacer, SOS racismo, Sem valos, Viraventos, Teranga-Juan Soñador, etc.

Tenho falado em varias ocasiões com um destes imigrantes assentado na Corunha, o senegalês Djibril Faye e com José Fernández Pernas, um médico corunhês fundador da associação Renacer em 1985. O doutor Pernas é muito conhecido na Corunha, onde a sua associação tem atualmente 80 pessoas acolhidas em 15 pisos. Estes pisos são levados de maneira autogestionada pelos mesmos imigrantes. O financiamento é por uma parte externo: os “sócios protetores ” e os “sócios colaboradores”, entre os quais está um convénio com o Concelho da Corunha. E, pela outra, por “sócios familiares”; pessoas que chegaram a esses pisos em acolhida e logo, quando puderam desenvolver-se autonomamente, seguiram colaborando com eles. Pernas salientou-me que o espírito cristão é o que pôs a andar o projeto e o que o mantém até hoje; ainda que nos seus pisos a acolhida seja indiscriminadamente a cristãos, muçulmanos e de qualquer identidade.

Djibril é um senegalês que teve uma dura história no seu país e chegou ao nosso via Canárias e atravessando Espanha como tantos irmãos; colabora desde há quinze anos em Ecos do Sur. Conta-me que atualmente os imigrantes subsaarianos na Galiza são sobretudo do Senegal, Nigéria, Mali, Costa de Marfim ou Camerum; países francófonos que tenhem ainda uma economia muito dependente de França, que mantém um brutal colonialismo nos territórios que foram dependentes da metrópole. O incremento das migrações nas ultimas décadas é fruto dessas políticas econômicas. Os citados países foram alcançando a independência, mas seguem a manter realmente uma dependência de Paris, na sua economia e vida diária: “no que produzem, no que vendem e no que comem”, comenta-me Mito (Guillermo Fernández, de Ecodesarrollo Gaia); uma economia totalmente intervinda por Francia.

Alojamento e estância, os maiores problemas

Os maiores problemas destes imigrantes são o alojamento e o acesso aos permissos de estância para poderem estar legalmente no país e trabalhar para ganhar o sustento. De estar na rua ou amontoados em “pisos patera” ou de ocupas, foram passando a compartir pisos mais decentes graças às associações. Neles, a convivência entre muçulmanos e cristãos é habitualmente pacífica. O mais difícil é levar os 3 anos que devem estar como mínimo para conseguir o regulamento da estância e poder ter um contrato. “Três anos sem poder fazer nada! –ergue a voz Djibril– para gente jovem e forte, num país que precisa mão de obra”.

Também os problemas com o idioma e a educação. Ultimamente, um jubilado das terras de Florêncio Delgado Gurriarán, Constantino González Rey, leva um tempo tentando preparar uma casa de acolhida para imigrantes senegaleses e surafricanos em Seadur-Larouco, na comarca ourensana de Valdeorras, e uma fundação com o nome do benemérito Padre Seixas. O seu projeto era recuperar uma reitoral que a Igreja tem abandonada e convertê-la em vivenda autogestionada pelos mesmo imigrantes, aos quais pudera dar-se-lhes formação, e logo trabalho na comarca. Infelizmente, topou com dificuldades da mesma Igreja para conseguir a reitoral –outra vez “com la Iglesia hemos topado…”–, e de financiamento para o projeto que semelham insalváveis, apesar de pôr Constantino uma generosa aportação econômica. Por fim consegui alugar uma casa na zona.

Nós Diario