Os meses anteriores ao feroz colapso ocorrido agora nas bolsas de valores e à emergência da maior crise de saúde pública dos últimos cem anos testemunharam o maior êxodo de presidentes e directores executivos (CEO) de conglomerados corporativos. Além disso, directores e grandes investidores venderam milhares de milhões de dólares de acções das suas próprias empresas antes da implosão dos mercados de valores. Na vida, as oportunidades podem ser tudo e as pessoas, às vezes, simplesmente têm sorte. Mas parece estranho que tantos membros das elites corporativas tenham tanta sorte ao mesmo tempo. Não se trata de conhecer as motivações destes desertores mas de encontrar padrões comportamentais que vale a pena conhecer.

 

 

Uma importante publicação financeira, a revista Fortune, tem vindo a usar a expressão “o grande êxodo dos CEO” para descrever o fenómeno a que estamos a assistir. Tudo começou ainda no ano passado, quando os executivos-chefes começaram a renunciar numa quantidade jamais observada. A NBC News tornou público o seguinte em Novembro último:

“Os executivos-chefes estão a abandonar os cargos em número recorde este ano, com mais de 1332 pedindo o afastamento entre Janeiro e o final de Outubro. Embora não seja invulgar ver os CEO em fuga durante uma recessão, o que é digno de nota é observar uma vaga de saídas de executivos em plena fase de robustos ganhos das empresas e recordes do mercado de acções.

No mês passado (Outubro de 2019), 172 CEO deixaram o emprego, de acordo com a empresa de recrutamento Challenger, Gray & Christmas. É o número mais elevado registado mensalmente e o total do ano supera até a vaga de saídas que ocorreu durante a crise financeira”.

Até ao final do ano, segundo a revista Fortune, 1480 CEO tinham deixado os seus cargos.

Debandada continua em 2020

Para a maioria das pessoas, porém, parecia que os bons tempos ainda vigoravam no final de 2019. Os lucros das empresas subiam e o mercado de acções batia recorde atrás de recorde.

Havia, é certo, muitos sinais de que a economia global estava a desacelerar, mas a maioria dos especialistas pareciam não admitir uma recessão iminente.

Então por que razão tantos executivos acharam que chegara a hora de mudar de emprego? A seguir, a título de exemplo, eis algumas empresas das quais os CEO desertaram: United Airlines, Alfabet, Space, McDonalds, Wells Fargo, PG&E, Kraft Heinz, HP, Warner Bros., Best Buy, Colgate-Palmolive, MetLife, ebay, Nike.

Mas o êxodo em massa está longe de ter ficado por aí. O significativo número de 219 CEO deixaram os lugares só em Janeiro de 2020.

Nessa ocasião já estava a ficar claro que um novo coronavírus invadira a China e poderia transformar-se, potencialmente, numa grande pandemia. Foi o momento escolhido por numerosos membros das elites corporativas para abandonarem o barco.

Alguns desses CEO auferiram salários absurdos durante muitos e, de facto, é muito mais fácil agarrar no dinheiro e fugir do que ficar a dirigir uma grande corporação na dura crise global que já então poderia adivinhar-se. Eis mais algumas das empresas das quais desertaram os chefes-executivos: Disney, IBM, Harley-Davidson, T-Mobile, Uber alimentação, Linkedin, Mastercard, Salesforce, Crédit Suisse.

Não são do conhecimento comum as razões de cada um para tomar a decisão de se afastar: talvez cada caso seja um caso.

No entanto, não deixa de ser estranho este fenómeno de um êxodo corporativo massivo em momento tão crítico da nossa história.

Milhões de acções vendidas

É importante notar que nos últimos tempos os principais executivos corporativos viram-se livres de milhares de milhões de dólares de acções das suas próprias empresas, isto é, pouco antes de o mercado ficar completamente repleto de crateras. Vejamos o que escreveu, a propósito, o Wall Street Journal:

“Os principais executivos de empresas negociadas em bolsa nos Estados Unidos venderam cerca de 9200 milhões de acções das suas próprias empresas entre o início de Fevereiro e o final da semana passada (22 de Março), revela uma análise do Wall Street Journal.

As vendas salvaram os executivos – incluindo muitos do sector financeiro – de perdas potenciais totalizando 1900 milhões de dólares, de acordo com a análise, uma vez que o índice S&P (Standard and Poors) caiu cerca de 30% do seu pico em 19 de Fevereiro até ao encerramento das negociações em 20 de Março”.

No mercado de acções apenas se ganha no caso de se sair a tempo; e muitos membros da elite corporativa parecem ter um timing à prova de tudo.

Talvez tenham tido sorte. Ou talvez tivessem lido os artigos sobre as capacidades do COVID-19 para fazer desmoronar a economia global. De qualquer maneira, as coisas funcionaram muito bem para aqueles que conseguiram ver-se livres das suas acções antes que fosse tarde demais.

E acontece que vários membros do Congresso dos Estados Unidos também se desfizeram de acções pouco antes de o mercado enlouquecer…

A senadora Dianne Feinstein, da Califórnia, e mais três dos seus colegas de bancadas revelaram a venda de acções no valor de milhões de dólares nos dias que antecederam o surto de coronavírus que atingiu o mercado, segundo várias fontes.

Os dados estão disponíveis num site do Senado dos Estados Unidos que contém a divulgação de movimentos financeiros de membros da câmara.

É claro que os norte-americanos comuns não tiveram tanta “sorte” e as perdas financeiras globais no país têm sido impressionantes. E a crise parece estar muito longe do fim.

Michael Snyder, Global Research/O Lado Oculto