Relatório revela que em 70% dos ataques aéreos que mataram civis não foi encontrado nenhum “militante” ou “alvo militar.

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Ofensiva israelense destruiu mais de mil unidades residenciais, dezenas de hospitais, clínicas, escolas – Mahmud Hans / AFP

 

 

Novo relatório do grupo independente de monitoramento de guerras Airwars, sediado no Reino Unido, constatou que Israel deliberadamente atacou áreas civis densamente povoadas e utilizou indiscriminadamente armamento explosivo letal durante os 11 dias de sua campanha de bombardeios aéreos ocorrida em maio deste ano. O Airwars divulgou seu relatório no dia 9 de dezembro, véspera da data internacionalmente reconhecida como Dia dos Direitos Humanos.

O documento detalha exatamente como mais de 200 palestinos foram mortos por bombas israelenses lançadas em áreas civis, as quais Israel alegou ter como alvo por supostamente possuírem instalações militares operantes. Ao todo, mais de 259 palestinos foram mortos devido aos bombardeios, dentre eles 66 crianças e 41 mulheres. Mais de 2,2 mil palestinos sofreram diferentes tipos de ferimentos que variaram de lesões graves a ferimentos que apresentaram risco para suas vidas. Já entre os israelenses, 13 morreram devido a disparos de foguetes palestinos lançados para dentro de Israel por grupos de resistência agindo em defesa e retaliação.

Além das revelações acerca dos bombardeios a Gaza, o relatório também jogou luz sobre a campanha de ataques aéreos que Israel tem realizado na Síria desde 2013. O documento compara as investidas militares israelenses em Gaza e na Síria em termos da relativa “precisão” com a qual a campanha síria tem sido conduzida e o número significativamente maior de mortos nos bombardeios a Gaza. Isso sugeriria uma política israelense intencional para causar o máximo de mortes civis e danos aos palestinos como forma de punição coletiva. O relatório afirma, por exemplo, que se estima em 14 a 40 o número de civis mortos nas centenas de ataques aéreos que Israel conduziu contra bases aéreas, comboios de tropas e armazéns de armas na Síria desde 2013. Israel afirma que os ataques foram a – supostos – alvos iranianos e do Hezbollah.

Por outro lado, morreram por volta de dez vezes mais civis palestinos somente nos 11 dias de ataques em maio deste ano do que o total de civis mortos devido aos ataques aéreos israelenses na Síria nos últimos oito anos. O relatório acrescenta o estrondoso detalhe de que a maioria dos ataques na Síria foram realizados longe das áreas de construções civis como cidades e centros urbanos, tornando menos recorrente a ocorrência de vítimas civis. Em Gaza, mesmo com o pleno conhecimento de que o local se trata de uma das áreas mais populosas do planeta, o exército israelense seguiu em frente sem considerar o risco de causar vítimas civis e danos, levando a cabo mais de 1,5 mil ataques aéreos e de artilharia no curto período de 11 dias.

Dentre os exemplos citados no documento, há a vez em que 41 civis, incluindo 18 crianças, foram mortos em bombardeios na rua residencial Al-Wahda. O exército israelense alegou que o ataque tinha por objetivo destruir uma rede de túneis que era usada pelo grupo de resistência palestino Hamas.

Outro ataque a civis citado ocorreu a uma casa no campo de refugiados Al-Shati, em Gaza, matando membros de uma mesma família: duas mães (eram cunhadas) e oito crianças com idades entre 5 e 14 anos. Um bebê de cinco meses foi resgatado vivo após ser encontrado nos braços da mãe. Alaa Abu Hattab, que havia ido ao mercado local para as compras do Eid [celebração muçulmana que encerra o período de jejum do Ramadã], escapou do ataque, mas perdeu a esposa, uma irmã, filhos, sobrinhos e sobrinhas. Abu Hattab disse ao Airwars: “Não havia militantes dentro ou perto da minha casa nem foguetes ou lançadores de foguete. Eu ainda não sei por que eles bombardearam minha casa e mataram minha esposa, meus filhos, minha irmã e seus filhos”.

O relatório afirma que quase 300 pessoas foram mortas durante os 11 dias de bombardeios a Gaza, número substancialmente maior do que o informado antes. Um fato alarmante revelado pelo documento foi que em mais de 70% dos ataques relatados nos quais civis morreram não houve militantes mortos, o que significa que as únicas vítimas foram civis. Além do devastador número de mortos, os ataques também destruíram completamente mais de mil unidades residenciais, dezenas de hospitais, clínicas, escolas, dentre outros. Isso piora a terrível crise humanitária que o diminuto território palestino tem vivido nos últimos 14 anos como resultado do bloqueio israelo-egípcio em curso desde 2007.

Ao falar sobre o relatório, o diretor do grupo Airwars, Chris Woods, disse aos veículos de mídia que “nós estamos confiantes de que o relatório acrescentará ao crescente número de pesquisas mostrando que, quando alguém realiza ataques com armas explosivas em áreas densamente povoadas, a imensa maioria dos mortos são civis. Esta situação tem sido repetidamente documentada – é quase uma das leis da guerra moderna”.

Mencionando as conclusões do relatório, Woods foi citado como tendo dito: “Nosso último estudo corrobora o que descobrimos com outros conflitos de grande escala no Iraque, Síria e outros lugares: até mesmo exércitos tecnologicamente avançados matam um grande número de civis quando os ataques se concentram nos centros urbanos. Diferenças marcantes no número de mortos e feridos civis em ações israelenses na Síria e na Faixa de Gaza ilustram claramente que o fator mais significativo de dano a civis continua sendo o uso de armas explosivas em áreas povoadas. A maneira mais eficaz de reduzir o número de civis que morrem em guerras seria restringir o uso destas perigosas armas de efeito amplo sobre as áreas que atingem.”

Peoples Dispatch