Oito pessoas morreram asfixiadas quando a polícia do país usou gás lacrimogéneo contra mineiros não autorizados na mina Bissa, detida pela Nordgold, propriedade do bilionário russo Alexei Mordashov e dos seus filhos.
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                          Imagem publicada na página de facebook da Bissa Gold, SA

 

O promotor nacional Wendyam Lambert Sanfo relatou, num comunicado citado pela Reuters, que cerca de 40 pessoas estavam no local quando a polícia disparou gás lacrimogéneo, o que “causou pânico e asfixia entre os mineiros clandestinos”.

De acordo com Sanfo, os mineiros ilegais teriam entrado de forma fraudulenta em fossas abandonadas pertencentes à mina Bissa, propriedade da Bissa Gold SA que, por sua vez, é detida em 90% pela Nordgold, através da High River Gold Mines Ltd, e em 10% pelo Estado do Burkina Faso.

O procurador informou que vão ser apresentadas acusações por homicídio involuntário, mas não especificou contra quem. Quatro pessoas também foram presas sob a acusação de incendiar 10 veículos no local.

A polícia comunicou na segunda-feira que descobriu os corpos de seis mineiros na mina, mas não mencionou o recurso a gás lacrimogéneo.

A empresa Nordgold, detida pelo bilionário russo Alexei Mordashov e os seus filhos, não respondeu imediatamente a um pedido de comentário. Lançada em janeiro de 2013, Bissa foi a primeira mina construída pela Nordgold em África. A exploração está localizada a aproximadamente 85 km a norte de Ouagadougou, a capital do Burkina Faso.

O país é rico em recursos minerais, sendo os principais o ouro, zinco, cobre, manganês, fosfato e calcário. Traços de diamantes, bauxite, níquel e vanádio foram encontrados em várias formações geológicas. No entanto, o ouro continua a ser o minério mais explorado no país.

O Burkina Faso e os países vizinhos da África Ocidental têm sido alvo de uma corrida ao ouro nos últimos anos. Se, por um lado, se têm vindo a instalar minas industriais, a primeira iniciou produção em 2007, maioritariamente detidas por capital estrangeiro, por outro, os mineiros ilegais, sem outras oportunidades que garantam a sua sobrevivência, cavam para obter ouro em condições extremamente perigosas. Atualmente, o país é o quarto maior produtor de ouro de África, sendo que a grande maioria do ouro industrial extraído é enviado para a Suíça.

Atualmente, não há política governamental para divulgação dos beneficiários finais das concessões mineiras. A Iniciativa de Transparência das Indústrias Extrativas (EITI) revela(link is external) que, no seu relatório de 2015, não conseguiu identificar claramente nenhum beneficiário final. No entanto, foi capaz de identificar pessoas físicas para duas das 23 empresas, nomeadamente SEMAFO e SMB. Outras doze empresas são conhecidas por estarem listadas publicamente principalmente nas bolsas de valores de Toronto, Londres e Austrália (IAM GOLD Cooperation, SOMITA, BMC, BISSA Gold, OREZONE INC SARL, Gryphon Minerals Burkina Faso, High River Gold Mines WA, Kiaka gold, BIRMIAN Resources , Riverstone Resources NC, Jilbey Burkina SARL e Roxgold Sanu).

Desde 2018, milhares de civis foram mortos e milhões deslocados pela violência no Burkina Faso, sendo que a mineração de ouro tem sido uma fonte de conflito na região. Missões de “estabilização” na região, como é o caso da missão militar francesa na região do Sahel, têm-se traduzido num agudizar da situação.