Em 23 de janeiro de 2021, realizaram-se grandes manifestações pela libertação de Alexandre Navalny e contra o regime de Putin, na Rússia e em muitos países. Em Lisboa, também houve uma concentração junto à embaixada da Rússia, que juntou cerca de 50 pessoas.
Para a realização do ato, três imigrantes russos tiveram de entregar os seus dados pessoais, como acontece em qualquer manifestação ou concentração que se realize em Portugal.
Segundo notícia do Expresso, uma das ativistas, Knesia Ashrafullina, descobriu entretanto que os dados pessoais dos três ativistas foram entregues ao Ministério dos Negócios Estrangeiros russo em Moscovo e à embaixada russa.
“Na troca de emails sobre as regras da manifestação apareceu uma mensagem reencaminhada, com o meu nome e email e um ficheiro PDF em anexo com os dados das três pessoas que se tinham proposto a organizar a manifestação. Não quis acreditar quando vi que o documento tinha sido enviado para embaixada e o Ministério, na Rússia”, conta Knesia Ashrafullina ao jornal.
“É muito grave. Nunca participei em manifestações lá, mas agora que os meus dados foram passados ao MNE, a probabilidade de isto fazer disparar um algoritmo, um aviso num aeroporto, é grande. Não posso voltar ao meu país. É terrorismo de Estado, terrorismo é quando não se sabe quem será a vítima, é aleatório”, diz a ativista
Os três ativistas estão a preparar uma ação judicial contra a Câmara Municipal de Lisboa.
“Para Portugal isto também é uma ameaça à democracia. Como também sou portuguesa, não quero que o meu Estado faça coisas destas, também os portugueses podem ser visados. E se for um opositor sírio? Vão enviar o nome dele para Damasco?”, questiona a ativista.
Em resposta à queixa de Knesia Ashrafullina, a CML afirma em e-mail que pediu às autoridades russas “para procederem ao apagamento dos seus dados pessoais”…
Bloco pediu esclarecimentos a Medina
No twitter, Beatriz Gomes Dias, candidata bloquista à Câmara de Lisboa anuncia que o Bloco vai pedir esclarecimentos a Medina e afirma: “A confirmar-se, é uma inadmissível violação da lei”.
Câmara admite partilha de dados e afirma que já mudou procedimentos
Em comunicado, a Câmara de Lisboa admitiu a partilha dos dados dos ativistas russos com a embaixada russa, dizendo que os dados foram enviados à PSP, ao MAI e à entidade onde se realizou o evento (a embaixada russa). Esclarecendo que tem cumprido a lei “de forma homogénea”, ou seja, burocrática, adoptando a mesma prática para todas as manifestações, o executivo municipal rejeita qualquer acusação de cumplicidade com o regime russo e informa que os procedimentos para estas manifestações, já foram alterados, deixando de enviar dados para as embaixadas.
“Nas manifestações subsequentes para as quais foi recebida comunicação (Israel, Cuba e Angola) não foram partilhados quaisquer dados dos promotores com as embaixadas”, afirma a autarquia.
O Presidente da Câmara em declarações à RTP pediu desculpa do erro, referindo o procedimento burocrático que tem vindo a ser aplicado desde 2011 nas manifestações, mas que neste caso “não devia ter acontecido”.