A existência de campos de doutrinação e a violação dos direitos dos uigures em Xinjiang têm sido alvo de críticas internacionais. Com o despoletar do surto pandémico nesta província, surge a denúncia de que a minoria muçulmana está a ser sujeita a trabalhos forçados em fábricas que produzem material de proteção.
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                                  Minoria uigur. Foto de Todenhoff, Flickr.

 

Na passada quinta-feira, após perto de cinco meses desde que foi registado o último caso de SARS-CoV-2, a província de Xinjiang voltou a estar em alerta com a deteção de um novo caso. Na sexta, o número de infetados subiu para 17, ao que se somaram 13 no sábado e 17 no domingo. Já esta segunda-feira, foram registados mais 22 casos.

Conforme sublinha o jornal Público, Xinjiang tem vindo a ser notícia pelas piores razões. A China é acusada, por várias organizações de defesa dos direitos humanos, de perseguir por razões religiosas e de deter arbitrariamente mais de um milhão de uigures em campos de doutrinação política e de trabalhos forçados.

 

 

Em março, o Instituto Australiano de Estratégia Política (ASPI) denunciou que, entre 2017 e 2019, mais de 80.000 uigures mantidos sob detenção extrajudicial foram transferidos para fábricas que integram as “cadeias de fornecimento de 83 marcas conhecidas mundialmente nos setores tecnologia, têxteis ou automóvel”. “As fábricas usam mão de obra forçada de uigures como parte de um mecanismo de transferência patrocinado pelo Estado [chinês]”, sinalizou o organismo esclarecendo que, entre as marcas visadas, estão grandes nomes dos setores eletrónico, como Apple, Sony, Samsung, Microsoft ou Nokia; têxteis, entre as quais Adidas, Lacoste, Gap, Nike, Puma, Uniqlo ou H&M; e automóvel, BMW, Volkswagen, Mercedes-Benz, Land Rover ou Jaguar.

O New York Times publicou entretanto este domingo um artigo no qual avança que, mediante o aumento do número de infetados em Xinjiang, centenas de uigures estão a ser obrigados a trabalhar em fábricas para produzir equipamentos de proteção individual para consumo interno na China e para exportação, nomeadamente para os Estados Unidos.

O jornal norte-americano explica que inúmeras empresas chinesas estão a recorrer a um programa patrocinado pelo Governo do Partido Comunista chinês que lhes permite utilizar trabalhadores da minoria uigur nas suas fábricas, recorrendo a medidas “coercivas”.

A China nega as acusações e alega que os centros de detenção são imprescindíveis para o combate ao extremismo islâmico, promovendo a integração dos uigures.