Brandon Bryant foi um operador de drones da Força Aérea dos Estados Unidos durante cinco anos. Retirou-se com a consciência de que não era mais do que um assassino à distância, certamente de muitos inocentes, e decidiu dar a conhecer a existência de um massacre organizado de seres humanos sob a designação de “guerra dos drones”, executado no âmbito da “guerra contra o terrorismo”. “Somos piores que os nazis”, confessou.

 

 

Chacina cometida com drones norte-americanos no Paquistão

 

Um ex-operador de drones da Força Aérea norte-americana que decidiu explicar as actividades em que esteve inserido denuncia as atrocidades que cometeu enquanto cumpria um serviço militar que qualificou “pior que os nazis”.

Brandon Bryant foi um operador de sensores de aviões não tripulados (drones) da Força Aérea dos Estados Unidos entre 2006 e 2011. Matar era o seu trabalho: disparar remotamente mísseis contra alvos localizados a 11 mil quilómetros a partir de um centro de comando equipado com ar condicionado nos arredores de Las Vegas, Nevada. Durante o seu serviço na Força Aérea, Bryant afirma que o seu esquadrão executou 1626 “alvos”, incluindo mulheres e crianças. E declara-se pessoalmente responsável pela morte de 13 pessoas.

Brandon Bryant confessou ao jornal The Independent, do Reino Unido, que atingiu o ponto de ruptura quando matou “acidentalmente” uma criança no Afeganistão. Tinha acabado de disparar um míssil Hellfire contra um prédio onde se encontrava “um alvo inimigo” quando viu uma criança sair do edifício. Bryant revela que relatou a situação aos seus superiores: “é a merda de um cão!”, responderam-lhe; “esquece isso”. Ele, porém, não conseguiu esquecer. “Quando o míssil atingiu o alvo percebi no meu íntimo que me tornara um assassino”, disse.

Tempos antes, quando executou a sua primeira morte os outros aviadores do esquadrão deram-lhe os parabéns. Bryant disse à Root Action Network, em 2017, que os operadores de drones consideram que o seu trabalho é “matar pessoas e destruir coisas”. Isto “é contra tudo o que eu já aprendi sobre honra, justiça e treino”, confessou. Em sua opinião os militares norte-americanos “são piores que os nazis” porque “já deveriam conhecer o que eles fizeram”.

Depois do ataque que matou a criança afegã Bryant deixou as forças armadas e decidiu começar a pronunciar-se contra a guerra dos drones. A sua atitude teve consequências. Diz que familiares e amigos se afastaram, que ele e a sua família foram ameaçados. No entanto, diz-se motivado pelo desejo de dar a conhecer aos seus concidadãos o efeito desumano dos drones nas vítimas que provocam mas também entre os operadores. “Gostaria que as pessoas soubessem não apenas da existência destas práticas mas também das consequências que tem sobre nós, como espécie humana, o facto de termos tanto poder de decisão sobre uma actividade tão destrutiva”, afirma. “Sempre que nos aproximamos dos momentos decisivos teremos de perceber onde isso nos leva”.

Bryant trava uma batalha difícil. Depois das administrações Bush e Obama, Donald Trump abraçou igualmente a guerra dos drones, opção que ilustrou de maneira infame com o recente assassínio de um comandante militar iraniano, o general Qasem Soleimani. No mês passado, numa das acções mais exterminadoras, um número não confirmado de cidadãos afegãos – provavelmente mais de 60 – foram mortos juntamente com o chefe regional de uma facção talibã na província de Herat. Em Setembro passado foi desencadeado um ataque de drones para supostamente destruir um abrigo de membros do Estado Islâmico; em vez disso foram assassinados cerca de 30 camponeses afegãos que recolhiam pinhas na província de Nagarhar.

De acordo com o Gabinete de Jornalismo de Investigação, com sede em Londres, desde 2004 realizaram-se pelo menos 6786 ataques aéreos dos Estados Unidos no Afeganistão, Paquistão, Iémen e Somália, provocando 1725 mortes entre civis. Embora seja impossível dizer exactamente quantos civis foram mortos na chamada “guerra global contra o terrorismo” desencadeada na sequência dos atentados de 11 de Setembro de 2001, as estimativas fiáveis do número de mortos variam entre o valor conservador de meio milhão e, possivelmente, mais de dois milhões.

 Brett Wilkins*, Digital Journal/O Lado Oculto