Está a ser instalada uma aplicação de vigilância nos telemóveis dos turistas estrangeiros que entrem na província de Xinjiang. Nessa região da China há campos de “reeducação” e um amplo sistema de reconhecimento facial que controla os movimentos das pessoas da minoria Uigur.
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Manifestantes pelos direitos do povo uigur. Washington. Julho de 2009.
                      Manifestantes pelos direitos do povo uigur. Washington. Julho de 2009. Foto de Malcolm Brown. Flickr

 

À chegada de qualquer aeroporto ou região fronteiriça da zona de Xinjiang é pedido aos visitantes estrangeiros, para além dos habituais documentos de identificação, o telemóvel. Depois, segundo um consórcio de vários meios de comunicação social internacionais que inclui o The New York Times, o Guardian e o Süddeutsche Zeitung, as autoridades chinesas instalam sistematicamente uma aplicação que espia o telemóvel dos estrangeiros.

Esta aplicação rouba informações como a lista de contactos, os últimos números para os quais se ligou, o conteúdo dos e-mails e sms e dados de geolocalização e características técnicas do telefone, segundo explicou à France24 Thorsten Holz, investigador de segurança nas redes na Universidade de Bochum, na Alemanha.

Este especialista explica que o programa informático “procede em três etapas: interessa-se primeiro pelos dados pessoais, verifica depois a atividade em certas redes sociais e busca por fim a presença de dados considerados sensíveis pelas autoridades chinesas”. Serão, alega-se, 73 mil os ficheiros proibidos identificados pelo governo, alguns dos quais ligados ao islamismo mas também vários outros que vão desde a questão de Hong Kong até ao Tibete. Talvez por engano, nessa lista terão caído também uma banda de metal japonesa chamada “Unholy Grave” e um manual de auto-ajuda intitulado “As 33 Estratégias de Guerra”, escrito pelo norte-americano Robert Greene.

O interesse dos agentes do Estado chineses está virado sobretudo para as redes sociais chinesas mais do que o Facebook ou Twitter. Se algum ficheiro considerado suspeito for encontrado seguir-se-á uma vigilância mais próxima.

Supostamente, a aplicação deveria ser apagada de forma a ninguém ter conhecimento da operação. Só que alguns agentes ter-se-ão esquecido de o fazer o que permitiu, segundo o Guardian, a um primeiro turista notar que, depois da revista policial, tinha no telemóvel uma aplicação desconhecida com o nome Feng cai, a atividade de recolha de mel da abelha. Seguiu-se uma investigação de vários técnicos independentes sobre a natureza da aplicação que foi descoberta em vários outros aparelhos.

 

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O Partido Comunista Chinês está a empreender uma campanha repressiva em Xinjiang contra os Uigures, uma minoria étnica que professa o islamismo. Vigilância, prisões, campos de reeducação massiva e outros expedientes repressivos fazem parte do quotidiano na região a coberto de uma declarada luta contra a ameaça terrorista.

Há alguns meses atrás, uma outra denúncia sobre vigilância informática chegou aos meios de comunicação sociais internacionais. Os movimentos de mais de 2,5 milhões de cidadãos estariam a ser vigiados através de tecnologia de reconhecimento facial. Alguns destes dados, num total de 6.7 milhões de coordenadas GPS, foram recolhidos pela empresa chinesa SenseNet, que comercializa programas de reconhecimento facial, mas acabaram por ser descobertas online, sem sequer estarem protegidas por qualquer palavra passe. Por pouco tempo, depois da informação ser tornada pública estes dados desapareceram.

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