As nove potências nucleares do mundo estão a investir no armamento nuclear alterando assim a tendência para a redução de arsenais que se verificava há 35 anos. “O risco de uso destas armas parece mais alto do que nunca antes, desde o fim da Guerra Fria” conclui o instituto sueco SIPRI.
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Campanha contra as armas nucleares. Foto de International Campaign to Abolish Nuclear Weapons/Flickr.
                           Campanha contra as armas nucleares. Foto de International Campaign to Abolish Nuclear Weapons/Flickr.

 

 

Entre o início de 2022 e o ano anterior, o número de ogivas nucleares até diminuiu ligeiramente. Mas as notícias estão longe de ser positivas no que toca às armas nucleares. A tendência de diminuição a que se tem vindo a assistir nas últimas décadas está a mudar. Com os programas de modernização que estão a ser implementados em vários dos países detentores deste tipo de arsenal, o número de armas nucleares pode vir aumentar no decorrer da próxima década.

Estas são as conclusões do relatório anual do SIPRI, Instituto Internacional de Estudos para a Paz, um organismo não governamental sueco. Segundo esta instituição das nove potências nucleares, Estados Unidos da América, Rússia, Reino Unido, França, China, Índia, Paquistão, Israel e Coreia do Norte, duas se destacam concentrando 90% do armamento nuclear: EUA e Rússia.

A Rússia é a principal potência atómica com 5.977 ogivas (menos 280 do que no ano anterior), seguida dos EUA com 5.428 (menos 120). A China tem 350, a França 290, o Reino Unido 225, o Paquistão 165, a Índia 160, Israel 90, a Coreia do Norte 20.

Os especialistas do instituto alertam que os números das armas nucleares nas mãos daqueles países têm vindo a reduzir-se há 35 anos e tal assim continuou o ano passado mas que isto é devido ao desmantelamento de ogivas que foram retiradas de uso. Pelo contrário, o número de armas dadas como operacionais permanece “relativamente estável”.

Das 12.705 ogivas nucleares para uso militares existentes no início deste ano, cerca de 9.440 estão armazenadas para uso potencial. Perto de 2.000 são mantidas pelos EUA e Rússia em estado de “alto alerta operacional”.

Nesta altura, há um aumento do investimento e atualização do armamento nuclear, concluindo-se que “há claras indicações que estas reduções que caracterizaram os arsenais nucleares desde o fim da Guerra Fria terminaram”. Assim, “o risco de uso destas armas parece mais alto do que nunca antes, desde o fim da Guerra Fria”, afirma-se.

Depois de 1986 ter sido o ano em que mais ogivas nucleares existiam no mundo, mais de 70.000, um longo processo de desarmamento nuclear se seguiu. Passaram a existir “sinais de que o declínio dos arsenais nucleares” acabou. Por exemplo, o Reino Unido anunciou em 2021 a sua decisão de aumentar o número de ogivas nucleares que possui ao mesmo tempo que vai deixar de publicitar os números de armas deste tipo que mantém. No mesmo ano a França lançou um programa para desenvolver um submarino nuclear de terceira geração. E Putin na sequência da sua invasão da Ucrânia tem várias vezes levantado a ameaça do uso de armas nucleares.

Hans M. Kristensen, diretor do Projeto de Informação Nuclear da Federação Americana de Cientistas e membro da SIPRI, explica que “há indicações claras que acabaram as reduções que caracterizaram aos arsenais nucleares globais desde o fim da guerra fria”. Wilfred Wan, diretor do Programa de Armas de Destruição Massiva do SIPRI, acrescenta que “todas as potências nucleares estão a aumentar ou a modernizar os seus arsenais e a maior parte deles está a potenciar a sua retórica nuclear e o papel que estas armas têm nas suas estratégias militares.