O Iêmen tem quase 30 milhões de habitantes. É um país árabe, portanto, para boa parte da mídia ocidental é uma caricatura de atraso e terrorismo. A maioria dos habitantes sobrevive com menos de 230 dólares por mês. Como é costume em boa parte das ex-colônias britânicas convive com conflitos internos, tanto para se separar entre o norte e o sul, como para se unificar. Sobrevoa sobre o céu iemenita a águia imperialista, e sobre a terra corta sua carne a cimitarra da Arábia Saudita. Iêmen está sendo destruído para benefício de Washington e Riad. Para a imprensa ocidental o conflito no Iêmen é apenas mais uma guerra entre facções rivais, um problema natural das tensões tribais iemenitas.

Mas, não é assim. Ocorre que a parte sulista do Iêmen já foi um estado comunista e como acontece com outros países no mundo isso se paga com isolamento. Desde sua precária independência jamais se livrou das garras do império britânico e dos bloqueios e ataques militares da Arábia Saudita, associada aos Estados Unidos. Por isso, e em defesa da sua pauta comercial, a imprensa ocidental, incluída a brasileira, não falam do Iêmen, e quando falam dissimulam o genocídio organizado pelas forças ocidentais e seu aliado saudita.

As reformas políticas, sociais e econômicas que a revolução iemenita do sul aprovou, como a educação universal, os serviços de saúde gratuitos, a igualdade formal para as mulheres, e muitas outras, incomodaram, como incomodam em qualquer parte do planeta, os interesses mesquinhos de ocidente.

Quando na década de 90 se unificaram o Iêmen do Norte governado pelos Imami, e o do Sul, controlado pelo império britânico, o fantasma das guerras tribais, centradas nas regiões rurais do país, parecia desaparecer. Mas, isso não era bom para os interesses estrangeiros.

É que o Iêmen, apesar de ter as melhores condições climáticas da região para a produção agrícola, baseia mais de 90% da sua economia na exportação de petróleo. E ter petróleo para qualquer país do chamado terceiro mundo é um problema muito grave: sofrerá intervenções militares, bloqueios, roubo de divisas, guerras intestinas programadas desde fora, incitação à violência social e tentativas de golpes de estado.

Num informe de finais de 2018, o diretor da Unicef, Geert Cappelaere declarou que havia indícios de que por causa do bloqueio da Arábia Saudita associada aos Estados Unidos, uma criança morre de doenças evitáveis e forme a cada 10 minutos.

A resistência e a luta do povo iemenita precisa dos nossos olhares ativos. As crianças do Iêmen são vítimas contemporâneas do capitalismo selvagem. Denunciemos este crime contra a humanidade.

 

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