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(FOTO: NICK JAUSSI/SEWATCH)

O Conselho dos Direitos Humanos da ONU endereçou imediatamente uma carta ao governo italiano para protestar contra a tentativa “de criminalizar todos os refugiados que se encontram em situações vulneráveis” ao acusá-los de ligações com tráfico e terrorismo “que não se baseiam nos fatos”. “O governo italiano – diz ainda o documento – recusa-se a praticar operações destinadas a proteger a vida e a dignidade humana”, a justificar “o papel indispensável das organizações humanitárias.

Dura lição de civilidade. Mas o procurador de Agrigento, que não atende, felizmente, pelo nome de Deltan Dallagnol, e sim de Luigi Patronaggio, fez mais: determinou o sequestro do Sea Watch e o imediato desembarque dos 47 fugitivos ainda a bordo. Evento igual dera-se no caso do navio Mare Jonio, graças ao mesmo procurador de Agrigento. As eleições para o Parlamento Europeu, marcadas para domingo 26, servem à propaganda do ministro e chefão da Lega, sob investigação do procurador de Catânia desde o momento de outro desembarque do Sea Watch no porto da cidade siciliana. Deflagrado o processo, o destino de Salvini passa às mãos da Justiça. A qual funciona na Itália como há de ser em uma democracia autêntica, a despeito da situação política adversa.

A independência dos três Poderes, Executivo, Legislativo e Judiciário, garantida pela Constituição de 1948, fruto do trabalho de um ano e meio de uma Constituinte exclusiva, é essencial ao regime democrático. O Executivo ofende os Direitos Humanos com o apoio de uma maioria no Legislativo, mas o Judiciário age por conta própria e um simples procurador põe em xeque o ministro do Interior e passa por cima das suas ordens.

As bravatas de Salvini se parecem bastante com aquelas de Jair Bolsonaro e do bolsonarismo acuado cada vez mais nitidamente pelo Congresso, enquanto trafega em rota de colisão contra o STF e seus empolados ministros, astros da televisão como não ocorre em países democráticos e civilizados. Nada disso rima com democracia.

Carta Capital