Na semana passada, agentes da polícia da província indonésia de Aceh, acompanhados por locais, invadiram salões de beleza para proceder à detenção. As mulheres transgénero foram despidas em público. As autoridades cortaram-lhes ainda o cabelo e obrigaram-nas a gritar “como homens”. As agressões foram filmadas e estão a circular na internet. As mulheres foram ainda sujeitas a uma “reeducação de género” e espancadas pelas autoridades.

 

 

O vice-comissário da polícia de Aceh, Untung Sangaji, detalhou os acontecimentos ao canal australiano ABC: “Mudámos-lhes as roupas. Estavam a usar vestidos. Comprei-lhes camisas e disse-lhes para gritar. Primeiro soavam femininos, mas depois soam melhor”. Depois, acrescentou, “o nosso imã deu-lhes um sermão”.

Já detidas, as mulheres passaram por um alegado processo de “reeducação de género”, que incluiu vestir roupas masculinas, efetuar exercícios físicos, como flexões e abdominais, e exercícios vocais, até serem consideradas suficientemente “machos”. As mesmas terão ainda sido despidas e espancadas, segundo refere o Guardian.

De acordo com o jornal britânico, este ataque tem causado um intenso êxodo da comunidade LGBT, que receia que as perseguições se intensifiquem. Já encerraram vários salões de beleza. Esta semana, os temores foram exacerbados, face à proposta do parlamento nacional de criminalizar o sexo homossexual e todo o sexo extramatrimonial.

“Sentimo-nos tão tristes e zangados quando soubemos da prisão destas mulheres transgénero e do tratamento desumano a que foram submetidas”, afirmou um representante de uma associação LGBT em Aceh, citado pelo Guardian.

“Depois deste episódio ficámos realmente assustados, porque podemos imaginar o que está acontecer por aqui”, frisou.

Jacarta já deu início a uma investigação sobre a atuação da polícia, mas a população local também se tem vindo a mobilizar pela “erradicação da população LGBT”. Esta sexta-feira, teve lugar uma manifestação contra a intervenção da polícia de Jacarta. “Não odiamos as pessoas LGBT, mas o que odiamos é o seu comportamento”, gritava o governador de Aceh, Irwandi Yusuf, durante o protesto.

Com base no seu estatuto de autonomia, Aceh é a única província indonésia que pode adotar os preceitos da sharia (lei islâmica), incluindo aqueles que estipulam que o sexo homossexual é punido com 100 chicotadas.

O diretor da Amnistia Internacional Indonésia, Usman Hamid, já veio criticar as rusgas promovidas pelas autoridades de Aceh, afirmando que as mesmas são uma de várias formas de perseguição aos cidadãos transgénero e LGBTI no país, perseguidos “só por serem quem são”.

“Cortar o cabelo das pessoas detidas para as ‘tornar masculinas’ e forçá-las a vestir-se como homens são formas de humilhação pública e constituem um tratamento cruel, desumano e degradante”, frisou em comunicado(link is external). Segundo Usman Hamid, estamos perante uma “clara violação dos seus direitos humanos.”

Fonte: esquerda.net