Israel iniciou este mês a construção de um muro terrestre a todo o comprimento da fronteira com a Faixa de Gaza, que será ligado à barreira marítima já edificada e que penetra até 200 metros ao largo do Mar Mediterrâneo. A realização da obra foi anunciada pelo Ministério israelita da Defesa.

 

O muro de Gaza em construção (Agência Maan) Charles Hussain, Cairo

 

Neste momento, o Estado de Israel mantém um muro de 700 quilómetros de comprimento e três metros de altura segregando a Cisjordânia e que, em vários sectores, avança pelo interior do território violando a “linha verde” que serve de fronteira; esta situação isola comunidades palestinianas como “ilhas” praticamente incomunicáveis entre si. Além disso, as autoridades israelitas construíram também uma barreira separando a região ocupada dos Montes Golã do território da Síria.

O muro de Gaza vem encerrar fisicamente o território, já cercado e bloqueado por tropas há 12 anos, uma situação que, segundo a ONU, tornará a região inabitável já a partir de 2020. Na Faixa de Gaza vivem cerca de dois milhões de palestinianos em condições infra-humanas, praticamente sem água, energia eléctrica, sem emprego, com as estruturas habitacionais, de saúde e educação destruídas ou degradadas e com o abastecimento mínimo ferreamente controlado por Israel, em colaboração com o Egipto.

O novo muro que separará Israel fisicamente Israel da Faixa de Gaza terá 65 quilómetros de comprimento e uma secção subterrânea com vários metros de profundidade; a secção à superfície terá seis metros de altura e está a ser edificada em cimento; no topo serão instalados sensores de elevada sensibilidade e uma cerca electrificada com elevados níveis de energia.

“A fronteira é especialmente adequada contra as ameaças provenientes da Faixa de Gaza e funcionará como uma solução abrangente para Israel”, afirma o Ministério da Defesa. A secção subterrânea destina-se a impedir a construção de túneis pelo movimento Hamas, que governa o território e alegadamente costuma utilizá-los para se abastecer de armamento e canalizar clandestinamente os bens de consumo necessários à população, que são proibidos de entrar devido ao cerrado bloqueio.

Ainda segundo o Ministério da Defesa, na obra serão utilizadas cerca de 20 mil toneladas de aço galvanizado, de modo a torna-la inexpugnável. A altura de seis metros duplica a do muro que cerca a Cisjordânia. Israel tem um orçamento de três mil milhões de shekels, um pouco mais de 800 mil euros, para financiar a obra.

Na zona norte da fronteira, na região de Jabalia, o novo muro será ligado à barreira marítima que avança no Mediterrâneo e foi edificada com o pretexto de evitar os movimentos do braço militar do Hamas em direcção às localidades israelitas vizinhas. Esta barreira tem igualmente uma secção submarina e uma correspondente cerca à superfície com seis metros de altura e equipada com sensores. Estende-se por 200 metros até ao largo.

Durante a fase de construção, o ministro do Ambiente de Israel lamentou os efeitos que a barreira pode ter sobre o usufruto das praias da costa israelita.

Um campo de concentração

O novo muro em construção traduz a transformação plena da Faixa de Gaza num autêntico campo de concentração, totalmente à mercê dos militares israelitas que o cercam e ficam assim imunes a qualquer acção de resistência da população submetida. O Egipto colabora com Israel neste bloqueio, mantendo encerrada a fronteira de Rafah.

Os trabalhos de construção do muro surgem depois de dez meses de protestos constantes da população de Gaza, a Marcha do Regresso, contra o bloqueio e as condições em que é forçada a viver, acções essas realizadas todas as sextas-feiras e violentamente reprimidas pelas forças militares e policiais israelitas. O Ministério da Saúde da Palestina revela que 263 pessoas já perderam a vida em consequência da repressão dos protestos, 45 das quais são crianças.

É praticamente irrelevante, e sem qualquer efeito sobre a impunidade com que o Estado de Israel continua a praticar estas acções contra os direitos humanos, a reacção da chamada “comunidade internacional” contra a situação imposta aos dois milhões de pessoas da Faixa de Gaza.

Desconhece-se igualmente qualquer posição das instituições internacionais e europeias, designadamente dos governos da União Europeia, sobre o início da construção de mais um muro de separação para isolar comunidades palestinianas.

O lado oculto