O pai de Julian Assange, John Shipton, deu uma entrevista para a Strategic Culture Foundation, durante visita a vários países europeus, incluindo a Rússia, na qual buscava chamar a atenção pública sobre a perseguição a Julian Assange por parte das autoridades britânicas, por seu papel como responsável pelos vazamentos de informações que eram segredos de Estado de vários países através do portal WikiLeaks.

Poucas figuras da imprensa mundial podem se orgulhar de ter realizado uma transformação na política internacional e no panorama global dos meios de comunicação. Poderíamos dizer que Julian Assange, jornalista, ativista e fundador do site de denúncias WikiLeaks (2006), se encontra em um nível superior, no das pessoas que mudaram o mundo na última década.

Assange nasceu na Austrália e já foi premiado e elogiado por seu jornalismo que expõe crimes massivos, corrupção e intrigas nefastas, especialmente por parte do governo dos Estados Unidos, e também dos seus aliados ocidentais.

Uma das exposições mais impactantes do WikiLeaks foi o vídeo “Assassinato colateral” (2010) que mostrava os tiroteios mortais massivos e indiscriminados por parte das tropas estadunidenses no Iraque. O WikiLeaks também revelou crimes de guerra similares cometidos por tropas estadunidenses no Afeganistão. A chamada “guerra contra o terror” dos Estados Unidos e da OTAN foi exposta como uma fraude e um crime gigantesco contra a humanidade.

Assange trabalhou com os denunciantes estadunidenses Chelsea Manning e Edward Snowden, este último revelou a vigilância global sistemática ilegal por parte das agências de espionagem estadunidenses contra cidadãos comuns e líderes políticos de todo o mundo, em violação flagrante dos direitos humanos e contestando as afirmações de Washington de seu trabalho visava defender as liberdades civis e internacionais.

Os poderes fáticos perseguem os que dizem a verdade com a vingança, por se atreverem a expor sua hipocrisia y sua história vil. Snowden está no exilio na Rússia, incapaz de regressar aos Estados Unidos por temor a ser preso por “traição à pátria”. Por sua parte, Manning está presa indefinidamente nos Estados Unidos, por se negar a declarar contra Assange. O jornalismo inovador de Julian Assange expõe os crimes do governo e o fez de tal forma que muitos meios de comunicação ocidentais estabelecidos não puderam fazê-lo, por deferência covarde aos poderes fáticos. Os chamados meios “independentes” agora estão facilitando a perseguição de Assange, ao manchar sua reputação e ignorar sua difícil situação na prisão. Foi difamado, enfrentou calúnias, como a de que se tratava de um “agente do Kremlin” e um “ciberterrorista”.

 

&nbps;
Créditos da foto: &nbps

Depois de quase sete anos (2012-2019) confinado na embaixada equatoriana em Londres, onde solicitou asilo político para evitar a prisão arbitrária por parte das autoridades britânicas após uma falsa acusação de delito sexual, Assange foi detido ilegalmente em abril deste ano. Desde então, ele é mantido em uma prisão de segurança máxima em Belmarsh, onde vive situação de isolamento, enquanto os Estados Unidos preparam um pedido de extradição ao Reino Unido. Se este for aceito, Assange poderia ser julgado por violação da Lei de Espionagem estadunidense, e poderia ser condenado à pena de morte, ou até 175 anos de prisão.

A prisão de Belmarsh, nas proximidades de Londres, é considerada a mais severa do sistema prisional britânico, e é utilizada para abrigar assassinos em massa e terroristas mais perigosos. A prisão de Julian Assange nesse local e um ultraje, mas os meios de comunicação ocidentais mostram pouca ou nenhuma preocupação em informar sobre esta grave violação do devido processo e das leis de direitos humanos.

Evidentemente, sua detenção está sendo utilizada pelo governo britânico (por pedido de Washington, claro está) para destruir sua saúde e seu próprio ser. Aos 48 anos, sua condição física e mental se deteriora dia após dia, sob condições extremas que equivalem à tortura, como afirmou o relator especial da Organização das Nações Unidas (ONU), Nils Melzer, depois de visitar o preso em maio deste ano. O informe da ONU pedia sua liberação imediata.

Na seguinte entrevista, John Shipton conta como ele tem encontrado um grande apoio público para Julian, de pessoas que exigem sus liberdade. Entre esses apoios estão figuras destacadas figuras como o conhecido jornalista John Pilger, o filósofo e escritor Noam Chomsky, o cantor e compositor do Pink Floyd Roger Waters e a valente atriz Pamela Anderson.

 

Pergunta: Pode descrever as condições atuais de Julian na prisão, e seu estado de saúde?

John Shipton: Julian já perdeu 15 quilos, está recluído no hospital da prisão de segurança máxima e passa 22 horas por dia em regime de isolamento. Nils Melzer, que é relator especial das Nações Unidas sobre a tortura, o visitou acompanhado de dois especialistas, e fizeram um informe que denuncia a situação de Julian, mostrando os efeitos da tortura física e mental. Desde a visita de Nils, em maio de 2019, Julian continua perdendo peso, e vivendo sob condições que o informe descreve como “profundamente angustiantes”.

Pergunta: As autoridades permitiram a você ter um contato restrito com o seu filho na prisão. Isso é correto?

Shipton: Julian pode receber duas visitas sociais por mês, de não mais de duas horas. Minha primeira visita foi bastante constrangedora. Eu fiquei sentado numa sala de reuniões junto com outros prisioneiros durante 46 minutos, e após reclamar da demora me disseram que eu não poderia encontrar o Julian. Alguns minutos depois, e após mais reclamações, eles o trouxeram. Porém, minha segunda foi simplesmente cancelada.

Pergunta: Julian também tem um contato bastante limitado com seus advogados, o que afeta a preparação da sua defesa no caso da extradição.

Shipton: Sim, é um obstáculo bastante severo, porque ele foi classificado como prisioneiro de máxima importância em Grau B, o que significa prisão em confinamento solitário, sem acesso a computadores ou uma biblioteca. Suponho que a biblioteca da prisão não tem livros sobre direito penal.

Pergunta: Em setembro, uma juíza britânica determinou que a detenção de Julian na prisão de segurança máxima de Belmarsh se estenderá indefinidamente, apesar de que ele deveria ter direito a ficar em liberdade, após cumprir a condenação por infração da fiança de 2012. Qual a sua visão sobre essa decisão da Justiça britânica?

Shipton: A juíza apresentou sua própria oferta de liberdade sob fiança para Julian, que a rejeitou as condições estabelecidas. Em resumo, se usou a expressão de que “é provável que se escape”. Julian já participou em acordos legais de asilo baseados em tratados dos quais o Reino Unido é signatário, e que são respaldados pelas mais importantes entidades internacionais. Também já se ofereceu diversas vezes para ser entrevistado sobre a acusação de delito sexual e inclusive para viajar à Suécia, desde que exista uma garantia de não extradição posterior aos Estados Unidos. As ofertas de liberdade condicional não vêm de hoje, ele as recebe desde o período na Embaixada do Equador, mas são produto de uma colaboração entre promotores britânicos e suecos, e revelaram uma cooperação entre esses países que é irregular e que atropela o devido processo.

A promotoria sueca tem quatro profissionais trabalhando no caso, já conseguiu duas entrevistas com ele (em 2010 na Suécia, e em 2017 na Embaixada do Equador em Londres), e não são capazes de concluir um processo que já dura nove anos. O projeto de levar o homem à Lua durou oito anos, menos que isso. Esta é a malícia judicial que utilizam contra Julian.

Pergunta: Quais são suas preocupações sobre o que poderia acontecer com seu filho se for extraditado aos Estados Unidos, onde enfrentaria processos por violar a Lei de Espionagem?

Shipton: Eles pretendem assassinar o Julian de uma ou outra forma.

Pergunta: O que você diria aos políticos e figuras midiáticas, como Meghan McCain, filha do falecido senador estadunidense John McCain, que denuncia Julian como um “ciberterrorista”?

Shipton: O pior de todos é o candidato Joe Biden, presidenciável do Partido Democrata estadunidense, que é um imbecil e sem vergonha. Primeiro, ele disse que Julian deveria ser enquadrado na Lei Patriota e condenado como terrorista, o que significa que ele poderia ser assassinado extrajudicialmente. Os imbecis que repetem e repetem frases sem sentido fazem eco de outras bobagens que convencem os cabeça de bolha. Todos esses imbecis estão horrorizados e aterrorizados pela verdade e pelos fatos que todos podem ver e ler em WikiLeaks.

Pergunta: Está orgulhoso do trabalho do seu filho como jornalista e denunciante? O que você considera como o principal objetivo alcançado por seu trabalho?

Shipton: As façanhas de Julian são muitas. Nos cabos diplomáticos que ele revelou, podemos ver como o mundo geopolítico está composto e disposto por pessoas vis, e podemos entender os Estados Unidos atuam para conseguir o que querem. Milhões de pessoas e comunidades se beneficiam com o WikiLeaks bastante, porque é um meio que mostra a verdade. Julian Assange e WikiLeaks são necessários no mundo atual.

Crimes de guerra revelados, práticas sórdidas, chantagem e suborno, sete países destruídos, milhões de mortos, rios de sangre e milhões de desamparados e deslocados de suas regiões destruídas pelas guerras. Entretanto, só Julian Assange e Chelsea Manning, ambos inocentes, são os que apodrecem na prisão.

Pergunta: Considera que o tratamento de Julian por parte das autoridades britânicas e estadunidenses são uma grave advertência a todos os cidadãos sobre o perigo ao seu direito à liberdade de expressão e aos meios independentes?

Shipton: Sim, uma advertência sombria. Um “cale-se, ou será embagado”. Que imprensa hoje é livre? Os meios de comunicação de fala inglesa são homogêneos em seus truques e prevaricações, em suas mentiras banais. Os motores de busca populares da Internet desviam a consulta aos amigos corporativos. A corporação Facebook é a encarnação da avareza. Todas estas entidades podem ser simplesmente reguladas. Os estados nacionais têm poderes, mas não fazem nada além de salivar sobre o acesso aos dados que geramos… nossos dados.

Julian Assange e Chelsea Manning são vítimas da violência estatal opressora contra as revelações da assombrosa corrupção e criminalidade.

Muitos escritores, comentaristas e cineastas, pessoas talentosas e valentes, travam uma luta furiosa nos meios de comunicação e blogs alternativos. Agradecemos esses homens e mulheres, porque todos sabem, intimamente, que não há um monstro mais frio que o estado norte-americano e seus aliados.

Pergunta: O primeiro-ministro Scott Morrison e o governo de Canberra se negaram a apelar pela liberação de Julian, apesar dele ser cidadão australiano. Como você vê a falta de resposta do governo australiano no caso? Por que estão aparentemente abandonados? Por exemplo, Morrison tampouco falou sobre Assange em seu encontro com Donald Trump. Por que você acha que o primeiro-ministro está atuando com tanta indiferença, e deferência para com os Estados Unidos?

Shipton: O governo australiano es cúmplice. Mais que cúmplice, já que o silêncio indica uma participação combinada. A única exceção notável nesse sentido é a da ex-ministra de Relações Exteriores da Austrália, Julie Bishop, que tem nos apoiado.

Pergunta: Você tem esperanças de que Julian seja libertado num futuro próximo? Quão importantes tem sido, para o espírito de Julian, o apoio público manifestado por figuras como John Pilger, Noam Chomsky, Roger Waters e Pamela Anderson, e de milhões de pessoas em todo o mundo?

Shipton: Para o espírito de Julian, amigos e simpatizantes são o alfa e o ômega da vida.

*Publicado originalment em es.news-front.inf | Tradução de Victor Farinelli para Carta Maior