Karina Mouriño, com raízes em Covelo, nasceu em Bos Aires. Hoje mora na nossa terra e dá aulas numha escola unitária. Tem umha dilatada vida profissional que atinge desde a carpintaria à extinçom de incêndios, passando polo desenho gráfico ou o desporto. Igualmente ampla é a sua experiência no activismo, que começou na década de 90 em Sudamérica e prosseguiu na Galiza. Hoje está implicada na associaçom Europa Laica, da que conversamos com vagar nesta entrevista.

 

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Como começa a tua ligaçom aos movimentos sociais?

Comecei a estar involucrada em Guatemala, de mao do mundo sindical e das organizaçons populares. Era o ano 1991, o ano dos acordos de paz entre o governo e a guerrilha URNG. No ano 1996 voltei à Galiza e continuei no compromisso social através do associacionismo vizinhal, o femismo, o movimento Nunca Mais…

Em que momento aderes à associaçom Europa laica ? Que te motivou a somar-te à sua causa?

No centro de ensino onde trabalhava anteriormente tratei de fazer valer o direito do alunado à sua escolha, à possibilidade de nom receber conteúdos religiosos, e também a que nom se lhe impugesse a participaçom no festival de Natal do centro em questom. Este festival tinha conteúdos religiosos, a começar polo nome, as panxolinhas que se difundiam, e umha actuaçom dos reis magos a repartirem agasalhos, etc. No centro rejeitárom a opçom de fazer um festival laico e eu neguei-me a participar. A maquinária autoritária do sistema educativo pujo-se a funcionar, e quer a direcçom, quer a inspecçom tratárom de me coaccionar para que participasse, mesmo chegando a receber notificaçom de abertura de expediente por parte da Conselharia. Acodim à associaçom Europa Laica para me assessorar, cousa que fixérom com muita diligência, e decidim associar-me.

Anos depois, com a Associaçom Vizinhal de Paranhos promovêmos um movimento social para tratar de reverter a usurpaçom da Casa Reitoral, chegamos mesmo a acodir à justiça, mas nom foi possível. As instituiçons públicas e as pessoas que as lideram favorecem e protegem os interesses da Igreja Católica, mesmo por riba das leis. Há dous anos, a Associaçom propujo às pessoas sócias da Galiza formar um grupo territorial, e aceitei a coordinaçom do mesmo. Considero que a causa laicista é urgente e crucial para a democratizaçom da sociedade, e nom está abondo defendida na mesma. A sociedade, apesar de estar cada ano mais secularizada, admite a tendência confissional das suas instituiçons.

Para umha pessoa desconhecedora da causa laicista, como definirias em breves traços a vossa associaçom?

O laicismotem duas interpretaçons, a primeira, mais singela, consiste na separaçom total das religions do Estado e a sua neutralidade cara elas. As pessoas som livres de exercer as suas ideias no que diz respeito a existência humana e/ou divina, de professar, se for a sua vontadem a religiom que escolherem, dentro do quadro de respeito aos demais. Disto nom há dúvida, e isto deve de ficar claro, o laicismo nom vai em contra de nenhuma religiom, e nom deve de confundir-se com anticlericalismo. O laicismo expom a necessidade de o Estado se abster de favorecer nenhuma religiom, por maioritária que esta for.

 

 

Deste modo, achamos que as religions devem autofinanciar-se; lembremos que o Estado espanhol dá à Igreja Católica por activa ou por passiva 12000 milhons de euros anuais através da escola concertada, dos mestres de religiom nas escolas públicas, da exençom do IVE, das inmatriculaçons…

Cumpre aliás que o sistema educativo financiado com fundos públicos esteja desprovisto de qualquer adoutrinamento religioso, de nenhuma índole. E por isso os espaços públicos devem estar desprovidos de simbologia religiosa.

Aliás, pensamos que o sistema judicial ainda recolhe tratos de privilégio com a instituiçom: eis o exempo da tipificaçom da blasfémia como delito (eufemisticamente chamda de delito contra os sentimentos religiosos), da penalizaçom do suicídio ou da assistência ao mesmo, da lei hipotecária que exime a Igreja católica de certos impostos, ou da lei de mecenádego que exime de IBI…recordemos que há artigos confissionais na constituiçom.

Pensamos, além disso, que os serviços sociais devem ser geridos polo Estado, já que grande parte foi entregada a instituiçons católicas, caso de Cáritas e o negócio da pobreza, ou a Fundaçom Sam Rosendo.

Qual é o sentido profundo da palavra laicismo?

O laicismo, do vocábulo grego laos, que designa o povo como unidade indivisível, num sentido mais fundo é o princípio de uniom de todos os seres humanos sobre a base de três ideias: a liberdade de consciência, a igualdade e o bem comum. Sob esta segunda acepçom, mais ampla, a luita laicista extende-se a causas que vam além da separaçom Igreja-Estado.

Dacordo as informaçons do web laicismo.org, tedes em andamento várias campanhas de ámbito estatal, como pola anulaçom do concordato com a Santa Sede e dos acordos do Estado com várias religions, a proposta da criaçom dumha rede de municípios laicos, ou por umha escola sem símbolos religiosos. Podias informar-nos da evoluçom dessas e outras campanhas? Qual é acolhida social que estám a ter ?

Vou-che falar daquela que estamos a potenciar especialmente neste momento. Ao nosso ver, os acordos de 1979 com a Santa Sede som a base dos privilégios da Igreja Católica no nosso Estado, e representam a gratitude do bando golpista pola ajuda que a Igreja supujo pra o franquismo.

É nesses acordos que se estabelece a obrigatoriedade de oferecer ensino religioso nos centros públicos, com pessoal de designaçom eclesiástica, o sostimento da Igreja Católica por parte do Estado, a ‘cooperaçom’ da mesma em actividades de beneficiência, a obrigatoriedade para o Estado do sostimento do património eclesiástico…achamos que a conjuntura política, em teoria, é a melhor dos últimos anos para encontrar boa acolhida à reivindicaçom dos acordos; mas só em teoria, pois o PSOE tem demonstrado que, a pesar do seu discurso afim ao laicismo, nom está disposto a dar passos firmes para o mesmo, nom se atreve.

A religiom fora da escola é a luita incansável da Associaçom Europa Laica. Desenvolvemos campanhas, propostas legislativas, actos formativos, reunions com altos responsáveis políticos…os avanços som mínimos, portanto devemos medir os logros em chave de desaceleraçom da intromissom da doutrina religiosa (em cada centro, um delegado da Igreja Católica é escolhido por ela e pagado por todos). Mas é que a escola é imprescindível para fazer perene a influência social e o capital simbólico da Igreja, trata-se dumha luita titánica. O pluriconfessionalismo é o último golo que a Igreja católica nos meteu: permanece nas escolas em troca de entrarem outras. A Lei Celaá dá passos muito tímidos no que diz respeito a isto (perde categoria académica no BAC) e a oposiçom da direita é feroz. Na realidade, para dar passos para a frente cumpre armar-se de valor e dispor-se a enfrentar importantes ataques do conservadorismo, de outro modo nom avançamos.

 

 

As campanhas em geral topam boa acolhida na sociedade, mas nom é abondo. O que se lhe pede aos partidos políticos também se pede à cidadania em geral, mais decisom para avançar para o laicismo: nom matricular as crianças em religiom, nom marcar nos quadrinhos de serviços sociais no IRPF. Quando os partidos virem que o laicismo interessa à cidadania, este passará a agendar-se politicamente, por enquanto fica em discursos baleiros, apenas moeda de cámbio para as transacçons políticas.

Como está a influir o auge da extrema direita em distintos Estados europeus, com a sua defesa ‘identitária’ muitas vezes religiosa, à luita polo laicismo ?

As campanhas de ódio e repressom da extrema direita estám muito bem financiadas e som muito beligerantes. Isto supom tal esperpento, como o autocarro de Hazte Oír…de algum jeito, abre os olhos a muitas pessoas e fortalece a sua posiçom democrata. Mas na realidade desgastam muito a militáncia, que se vê forçada a respostar decote os ataques e a expor-se a consequências graves (eis o caso de illy Toledo e o seu ‘me cago en Dios’ que suscrevo).

A extrema direita está bem organizada e dispom de muitos recursos, caso da Associaçom de Advogados Católicos, atesourados através de séculos de privilégios com o poder.

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