O número de profissionais detidos no exercício das suas funções nunca foi tão alto, com 274 jornalistas presos no início do mês. Em 30 anos, desde que começaram a ser compilados os dados, foram assassinados 2.650 jornalistas.
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Jornalistas na Faixa de Gaza.
                             Jornalistas na Faixa de Gaza. Fotografia de Al Jazeera English/Flickr.

 

O ano de 2020 viu o número de jornalistas detidos no exercício da sua profissão atingir o valor máximo desde que há contabilização de dados, com pelo menos 274 jornalistas presos a 1 de dezembro.

De acordo com o relatório anual do Comité para a Proteção de Jornalistas (CPJ), este é o número mais elevado de jornalistas presos em todo o mundo desde que esta entidade começou a recolher dados estatísticos no início da década de 1990.

Estes 274 profissionais que o relatório menciona são os que se encontravam detidos no dia 1 de dezembro, e não o total de jornalistas presos e libertados ao longo do ano.

“É alarmante e escandaloso ver um número recorde de jornalistas presos no meio de uma pandemia global”, lamenta o diretor executivo do CPJ, Joel Simon, em comunicado citado pela agência de notícias Efe ao qual a agência Lusa teve acesso.

Para Simon, esta “onda de repressão é uma forma de censura que interrompe a livre circulação da informação e alimenta a infodemia”.

Os países com piores referências no relatório são a Etiópia e a Bielorrússia, dois países em crise que nos últimos meses têm lidado com protestos. A tensão política deu origem a um aumento especialmente significativo das detenções de jornalistas.

No topo dos países que mais prendem jornalistas estão a China, com 47 detidos (sobretudo na província de Xinjiang), a Turquia com 37, o Egito com 27 e a Arábia Saudita com 24.

Segundo o mesmo documento, a maioria das detenções foi justificada com acusações de crimes contra o Estado, como terrorismo ou adesão a um grupo ilegal.

Num cenário diferente estão os Estados Unidos da América. Ainda que não tivessem nenhum jornalista detido a 1 de dezembro, o relatório afirma que 2020 foi um ano inédito em termos de detenções e processos criminais a jornalistas naquele país. Ao longo do ano foram presos ou processados criminalmente até 110 profissionais. Outros 300 foram agredidos, maioritariamente pelas forças de segurança enquanto cobriam manifestações.

2.650 mortes em 30 anos

Segundo o Livro Branco sobre Jornalismo Global, publicado pela Federação Internacional de Jornalistas para assinalar o Dia Internacional dos Direitos Humanos, desde 1990 foram mortos 2.650 jornalistas, dos quais 42 este ano.

A federação “foi a primeira organização a representar jornalistas a dar o alarme sobre os seus assassinatos e mapear o seu destino todos os anos”, enquanto eram alvo “impunemente em todos os cantos do globo, brutalizados, baleados, sequestrados” pelos inimigos da liberdade de imprensa, lê-se no documento.

Mais de metade das mortes concentram-se em apenas dez países: Iraque (339 mortos), seguido do México (175), Filipinas (159), Paquistão (138), Índia (116), Federação Russa (110), Argélia (106), Síria (96), Somália (93) e Afeganistão (93).

Os anos da guerra no Iraque, 2006 e 2007, foram os mais mortíferos.

“No Iraque, que lidera a lista e adquiriu o título do país mais assassino do mundo para jornalistas, os assassinatos de jornalistas eram raros na primeira década” quando a IFJ começou a contabilizar, mas só em 2003, “com a invasão anglo-americana” é que os números começaram a aumentar. De forma semelhante, os números no Afeganistão “refletem as consequências da invasão dos Estados Unidos em 2001”.

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