Há poucos dias, no Faro de Vigo, Xosé González falava com profundidade da necessidade de identificar com seus nomes todos os torturadores que na oprobriosa ditadura fascista de Franco laceraram sem piedade moços e moças polo simples feito de pensarem diferente e manifestarem-se diferentes, polo simples feito de procurarem um futuro melhor e de dignidade. Com antecedência, no cabodano do assassinato de Reboiras pola policia franquista, no cemitério de Imo, eu mesmo denunciava como uma das patas que sustiveram o regime, a desmemoria, que segue a reter no anonimato ainda uma grande parte dos covardemente assassinados polo fascismo, fracassou com Reboiras porque ao pouco tempo, escassos dois anos, tivemos documentos que nos acreditabam como foi assassinado e anualmente seguimos a dar-lhe vida com nosso reconhecimento. Conseguimos superar a desmemoria, já não fica, como tantos outros nacionalistas galegos, no anonimato; jornais, escritos, revistas, livros, programas radiofónicos… falam -nos do seu assassinato; ninguém pode falar-nos de parcialidade ou falsas verdades, todo consta no sumario seguido ante o Julgado militar, do que temos copia (agora sim apareceu copia).

Mas a leitura do artigo de Xosé González fixo-me reflectir. Sim, já ninguém pode negar o assassinato de Reboiras e ninguém nos pode impedir que acudamos anualmente no seu cabodano a render homenagem no Cemitério de Imo, no Ferrol onde aconteceu o assassinato, e nos corações de tantos galegos que sentimos a morte cruel de um jovem cheio de ilusão e de amor à sua nação e seu povo. Mas, quem sabe algo dos covardes que o balacearom polas costas, que inventaram um tiro na cabeça para tratar de justificar um suicídio, que o deixaram dessangrar-se no interior de um obscuro portal onde covardemente não se atreviam a entrar e que só o fizeram depois de longo tempo de silêncio e de ter arrojado ao seu interior bombas lacrimogêneas? Pouco se investigou a respeito dos feitos, mas nem uma palavra de investigação policial a respeito de quem foi o autor ou autores dos disparos, quem o inventor do tiro na cabeça, quem o que deu a ordem de deixar que no interior do portal morresse sangrado um ser humano. Pois também seria preciso; nada de desmemoria a favor dos repressores, dos torturadores.

Resulta terrível que a estas alturas (e sobretodo agora) estejamos autocensurando os nossos escritos por se a administração ou os julgados consideram que o nosso pensar, o nosso comentar ou o nosso opinar excede da pacata e reacionária condição carpetovetónica que está a impor de novo o fascismo emergente. Tanto que procuramos o máximo de segurança e de exactitude na expressão escrita por se houver qualquer fenda ou duplo significado da palavra que poda dar pé a que qualquer ignorante poda incriminar-nos. É necessário saber quem foram os assassinos, os repressores, os autores do terror, os que se apropriaram de bens dos acusados ou fugidos, revitalizar a Lei de Memoria Histórica dotando-a de fundos económicos adequadamente.

Mas também é preciso desmascarar e tirar do anonimato todos os que covardemente, desde sua baixeza moral, foram capazes de torturar em Comissarias de Policia e Quarteis da Gª Civil uma juventude que despertava do solpor produzido polo medo e o terror, para tomar conta de seu próprio porvir e do porvir e dignidade da nação galega; dos covardes que te violentavam porque não podias defender-te ou carecias do meios que eles utilizavam para magoar-te, que disfrutavam sentindo teu sofrimento, que tronçavam a tua dignidade, que se vangloriavam da tua condição miserável depois da tortura.

Esta é lavoura de historiadores e investigadores e para realiza-la é preciso um grande concerto entre todos aqueles que sofreram repressão e tortura, explicando o ocorrido, as torturas sofridas, o lugar e no possível a pessoa ou pessoas que interviram na covarde atuação. Neste momento eu lanço um apelo a todos os afetados para que façam chegar a sua informação a escritores como Moncho Ermida, que laboriosamente investiga dados e que já no número correspondente ao 14 de agosto do semanario Sermos Galiza publica um documentado, valoroso e valente artigo sobre varios dos represores e torturadores com seus nomes e bizarras fazanhas, artigo digno de consulta e ao fio do que poderiamos solicitar da Diretora e Conselho de Administração de Sermos que autorizasse e facilitasse e apertura de uma caixa de correio electrónico para recepcionar todos os dados que se puderem enviar e aberto aos interessados na investigação; estou certo de que também colaboraria Esculca nesta recolhida de dados; do cuidado e acerto com que Sermos fai uso de todos estes dados e informações som exemplo os livros por ela editados como Mortos por amor á terra ou Os nomes do terror.

Sem medo. Xosé González no seu artigo (caro leitor, pois suponho um polo menos terei, não tenho data certa do artigo, só sei que foi em Faro de Vigo arredor do 20 de agosto) valentemente aponta uma serie de repressores e torturadores na cidade de Vigo, com seu nome ou como mínimo o seu alcume, pois naquela altura não sempre era fácil obter a filiação completa do membro da BIP que te perseguia. Teríamos que rematar com a vergonha de ver como polas nossas ruas passeiam felizmente aqueles que se assanharom contigo ou com teus amigos ou familiares, sendo especialmente asquerosos se a investigada era uma mulher; jubilados ou exercendo alguma profissão, parece que algum advogado… orgulhosos da sua indignidade, que se sintam necessitados de explicar aos seus filhos ou netos a sua crueldade e vesania. Difundamos de momento os artigos de Moncho Ermida em Sermos, que proporciona nomes completos e denuncias dos medios da época, e o de Xosé González no Faro.

Façamos uma nómina de torturadores e repressores para comum conhecimento, para vergonha social (mais difícil seria a humana) do identificado, nómina ou listagem que poderíamos iniciar com os identificados já por Ermida e por Pepe González nos seus artigos de Sermos e de Faro, solicitando-lhe desde aqui copia do último. A existência de testemunhas das torturas e torturadores garantiriam aos historiadores ou comentaristas a sua defensa caso de algum dos nominados acudirem aos julgados com querelas por calunias ou o inovador e interutilizável delito de ódio, ao poder apresentar o testemunho do próprio torturado.

A sociedade deve expulsar do seu seio e defender-se de pessoas sem escrúpulos, sumidos na indigência ética, brutais, mercenários do terror, desumanizados, sádicos e cruéis e sobretodo covardes que abusam de seu status, da imunidade que lhe proporciona o Estado e da situação de inferioridade da vítima, porque a vitima podemos ser qualquer de nós como no seu momento foram qualquer de nossos vizinhos, amigos, familiares, colegas. Não vos confiedes, o Estado espanhol foi em varias ocasiões denunciado e condenado por praticar tortura em quarteis e comissarias, tanto pola Comissão da ONU como da UE e polo TSJE.

Iniciamos a relação? Ficades convocados.

Nemésio Barxa Nemésio Barxa

Sermos Galiza