Temos a certeza de pelo menos um resultado que sairá das eleições desta terça-feira em Israel: o de que haverá pelo menos uma centena de deputados entre os 120 eleitos que defendem o apartheid. E ainda se diz que Israel é uma democracia?

 

As gaiolas dos check-points, o dia-a-dia dos palestinianos

 

Tiremos as conclusões : praticamente todos os israelitas desejam a continuação do apartheid, com mais de quatro milhões de pessoas sob ocupação e sob controlo israelita mas sem o direito de participar nas eleições.

A situação não foi sequer objecto de debate nesta campanha eleitoral, ainda que não se conheça outro regime no mundo onde, num mesmo território – a Cisjordânia –, residam umas pessoas que têm direito de voto (os colonos) e outras pessoas (os palestinianos) que não o têm.

De modo que as etiquetas actuais, direita, extrema-direita, centro ou esquerda, cobrem esta realidade simples: são todas pela continuação da ocupação e do apartheid, seja qual for o vocabulário que utilizem.

É por isso que estas eleições não têm qualquer interesse, não se revestem da menor importância. Parem com a algazarra e a histeria: não está absolutamente nada em jogo!

Sejam quais forem os resultados de terça-feira, 9 de Abril, o ocupante continuará a ser ocupante; o colonialismo e o apartheid serão plebiscitados.

Ninguém, nem mesmo os trabalhistas, defendem que seja levantado o cerco de Gaza!

Então e a paz? E o desmantelamento dos colonatos? Não façam rir a esquerda sionista!

A extrema-direita pretende a anexação oficial da Cisjordânia, que já foi anexada há muito tempo. Talvez isso tenha a vantagem de fazer cair a máscara da democracia e faça nascer enfim uma oposição tanto no país como no estrangeiro.

Mas daí a votar nesta direita fascista, que reclama a expulsão dos palestinianos e a construção do Terceiro Templo no lugar da Esplanada das Mesquitas, que será arrasada, e que mal esconde os seus sonhos de extermínio…

Só nos restam, eventualmente duas e meia opções marginais: o Meretz (esquerda sionista) e o Hadash-Taal (coligação de listas árabes de esquerda), que são favoráveis a dois Estados – esse famoso comboio ao qual já não existe acesso – e a lista árabe unida Balad, que encara a única solução possível: um único Estado com os mesmos direitos para todos.

Gideon Levy, Haaretz/O Lado Oculto