«Espancaram-me, sim, espancaram-me em Iruñea, em Gasteiz e em Donostia também, mas por sorte, o que é tortura não», explica no livro um dos vascos detidos nos anos 70. São muitos os que agora começam a se dar conta de que sim, foram torturados, e podem contá-lo. Assim ocorreu em Eibar, numa conversa em fevereiro en que Euskal Memória começou a difundir o trabalho que agora toma corpo num livro escrito por Julen Arzuaga.

O estudo -que se publica baixo o título “Ouso latza izan dá. La tortura en Euskal Herria” aborda esta prática infame de todos os pontos de vista: que é, quem a exerceu, como, a quem, quando, onde, por quê para quê… Entre os seus contributos mais salientáveis está a tentativa de pôr cifra aos casos produzidos em Euskal Herria. Com uma dificuldade evidente: só nos últimos anos organismos como Torturarem Aurkako Taldea (TAT) elaboraram registos e reuniram depoimentos. Por isso, para documentar o que aconteceu nos anos 60 e 70 é preciso recorrer a fazer extrapolações a partir dos dados parciais reunidos por diversas fontes. Do estudo destes dados conclui-se que entre 1960 e 1977 se produziram cerca de 10.000 detenções políticas em Euskal Herria, das que entre o 50% e o 70% incluíram torturas.

A partir de 1978 já há balanços oficiais sobre detenções que facilitam a contagem. Calcula-se que nos dez seguintes anos foram incomunicadas 7.370 persoas vascas e por volta do 40% delas padeceram torturas, o que supõe 3.000 casos mais que devemos somar aos 5.000-7.000 anteriores. TAT começa a publicar relatórios em 1989 e permite aquilatar já esta cifra. Assim, Euskal Memória explica que entre esse ano e 2000 se recolhem 900 casos, e que neste século atual são outros 733. Ao todo, pois, entre 9.633 e 11.633.

No seu estudo, Arzuaga sublinha que essa aritmética não serve para «delimitar o sofrimento» produzido, mas sim «faz mais relevante algo que não é reconhecido». E em paralelo o número deixa claro que a tortura é individual na medida em que afeta à cada torturado, mas em Euskal Herria «adquire ademais uma dimensão coletiva». E muito extensa.