Segundo informações coletadas pela organização, 36 pessoas morreram durante manifestações no país; CIDH acusa repressão policial contra manifestantes.

 

 

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) apresentou nesta terça-feira (10/12) um relatório sobre a situação da Bolívia durante o golpe de Estado que culminou na renúncia do ex-presidente Evo Morales. O órgão pediu uma investigação internacional e independente sobre a violação de direitos humanos durante este período do país.

Uma delegação do órgão esteve na Bolívia de 22 a 25 de novembro e visitou as cidades de La Paz, El Alto, Cochabamba e Sacaba. No documento, a CIDH afirmou que recebeu diversas denúncias sobre o “uso excessivo da força da polícia e das Forças Armadas”. O relatório apontou ainda que a repressão contra manifestantes resultou em feridos por disparos e pela utilização “indiscriminada” de gás lacrimogêneo.

“A Comissão ressalta que a Convenção Americana dos Diretos Humanos protege o direito aos protestos sociais, impondo ao Estado obrigações internacionais de cumprimento estreito, entre as quais se sobressai o dever de respeito e garantia de manifestação”, disse.

Outro ponto do relatório rechaçou as discriminações e discursos de ódio racistas, contra as mulheres e povos indígenas, destacando casos onde a bandeira Whipala, símbolo dos povos originários, foi queimada e destruída por “agentes de polícia, líderes civis e pessoas em diferentes pontos públicos”. O texto diz que há vídeos onde agentes de segurança pública retiraram a bandeira de seus uniformes após a consumação do golpe de 10 de novembro.

Segundo o relatório, a CIDH recebeu informações de que 36 pessoas morreram na Bolívia durante as manifestações. Sendo que, ao menos, 18 bolivianos perderam a vida nos “massacres” de Sacaba e Senkata, que ocorreram em 15 de novembro e 19 de novembro, respectivamente.

“Condenamos enfaticamente os massacres de Sacaba e Senkata, no qual ocorreram em graves violações dos direitos humanos. Pelo critério da CIDH, podemos classificar como massacres devido ao alto número de pessoas que morreram do mesmo modo, tempo e lugar, e que foi cometido contra um mesmo grupo de pessoas”, afirmou.

O órgão reiterou que “armas de fogo e munições” devem ser “excluídas” das operações de controle das manifestações. “Os policiais que irão entrar em contato com os manifestantes não devem portar armas de fogo”, afirmou.

Pelo Twitter, o ex-presidente boliviano Evo Morales comentou sobre o informe da CIDH ao afirmar que a autoproclamada presidente, Jeanine Áñez, e os opositores Fernando Camanho e Carlos Mesa serão “julgados por tribunais nacionais e internacionais”.

“O informe da Comissão Interamericana de Direitos Humanos confirmou que houve massacres contra minhas irmãs e irmãos em Sacaba e Senkata. Os golpistas Áñez, Camacho, Mesa e todos os que fizeram disparos acreditaram que poderiam matar sem nenhuma consequência. Agora, serão julgados por tribunais nacionais e internacionais”, disse.

Ópera Mundi