Centro de detenção secreto na Grécia
O New York Times noticiou esta terça-feira, 10 de março, que o Estado grego montou um centro secreto onde detém refugiados, antes de os expulsar para a Turquia. O centro clandestino está localizado em Poros, uma vila grega situada próximo da fronteira greco-turca.
As pessoas são levadas para este centro de detenção, são lhes retirados os bens que transportam, por exemplo telemóveis, não lhes é instaurado qualquer processo, nem têm qualquer hipótese de contactarem um advogado. Algumas pessoas denunciam que foram espancadas. As autoridades da Turquia disseram que pelo menos três migrantes foram baleados e mortos nas duas últimas semanas, quando tentavam entrar na Grécia. Um refugiado, que posteriormente conseguiu fugir para a Europa, diz que os refugiados são tratados “como animais” pelas autoridades gregas e conta que um grupo com dezenas de pessoas, onde ele se incluía, foi levado de novo para a Turquia numa pequena lancha, que atravessou o rio Evros.
O jornal considera que esta prisão secreta é um exemplo marcante dos esforços europeus para impedir a entrada de refugiados e evitar uma situação semelhante à de 2015. A interpretação do NYT confirma a denúncia do eurodeputado Miguel Urban sobre a dramática situação em Lesbos: “A prioridade absoluta, dizem de Bruxelas, é ‘defender as fronteiras europeias’. Nem palavra perante a violação dos Direitos Humanos ou o auge da institucionalização da xenofobia”.
Carta dos 200 voluntários humanitários portugueses sobre a emergência grega
Mais de 200 voluntários humanitários portugueses divulgou uma Carta dirigida ao Governo e ao Presidente da República, onde alertam para a situação que se vive na ilha de Lesbos, especialmente no campo de refugiados de Moria, e pedem para que Portugal aceite receber, pelo menos, mil pessoas, das que estão neste momento no campo de Moria. Aceda no link abaixo ao texto integral da Carta:
Os voluntários alertam para a emergência humanitária e a “situação desumana” que se vive no campo de refugiados de Moria, na ilha de Lesbos, na Grécia e apelam à tomada de decisões imediatas “coerentes com a política portuguesa de acolhimento e integração das pessoas refugiadas”.
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Aquele campo tem condições para 3.100 pessoas e vivem lá, neste momento, mais de 20.000 pessoas, “mais de metade das quais são famílias e há 1.049 menores desacompanhados”, referem, sublinhando que falta água quente e limpa, há falhas de eletricidade, existem más condições sanitárias e escassos cuidados de saúde. E testemunham exemplos dramáticos: uma casa de banho para cada 300 pessoas; as pessoas esperam 3 horas por cada refeição; nos últimos dois meses morreram cinco pessoas no campo (dois bebés, um menor desacompanhado e duas mulheres num incêndio); 20 crianças automutilaram-se e duas tentaram o suicídio.
Os voluntários apontam que este drama está também a ser vivido na ilha grega de Samos, onde há mais 7.000 pessoas num espaço que deveria ter no máximo 650 pessoas. Salientam ainda que o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados alertou para a situação e apelou à retirada de migrantes das ilhas gregas, em fevereiro passado, sublinham que a situação se agravou com a abertura da fronteira turca e frisam que a Grécia é um “país sobrelotado e incapaz de lidar sozinho” com o aumento ‘exponencial’ de migrantes.
“Sentimos agora o resultado agravado de cinco anos de inércia quanto a uma política europeia concertada e sustentável, à escala que a situação exige. É urgente uma resposta que faça jus aos valores sobre os quais a Europa se construiu”, realçam os voluntários.
Na Carta considera-se que “Portugal tem que ser parte da solução”, descreve-se as ações que Portugal tem tido e os compromissos que tem assumido. O documento destaca que Portugal comprometeu-se a reinstalar 1.100 pessoas refugiadas na Turquia e no Egito, mas só chegaram ao nosso país 186 pessoas a partir da Turquia e 220 do Egito, e que, em 2019, se disponibilizou a acolher mil pessoas dos campos refugiados gregos, em acordo bilateral com a Grécia, mas este acolhimento ainda não foi concretizado.
Assim, os voluntários pedem ao Governo que faça cumprir este acordo bilateral com o Estado grego, “dando prioridade máxima às pessoas mais vulneráveis que se encontram no campo de refugiados de Moria”.