O secretário da Presidência Uruguai, Miguel Angel Toma, afirmou nesta segunda-feira (13/05), em Roma, que o país quer ver o ex-general Néstor Troccoli, responsável pelo Serviço de Inteligência da Marinha do Uruguai (Fusna) na época da Operação Condor, na cadeia.
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Ex-general Néstor Troccoli, responsável pelo Serviço de Inteligência da Marinha do Uruguai

“Nós fizemos o possível para identificar os responsáveis da operação condor no Uruguai e esperamos que sejam condenados e que o ex-general Nestor Troccoli seja preso”, afirmou.

Toma esteve na cidade para acompanhar a audiência de apelação do processo sobre a operação, que corre na Itália, e investiga a participação de 24 acusados no desaparecimento e morte de 23 italianos nas décadas de 1970 e 1980.

Em janeiro de 2017, a Corte de Assis, na sentença de primeiro grau, condenou apenas 8 pessoas, justamente as que pertenciam à cúpula dos governos, absolvendo 19, sem considerá-las co-autores dos crimes.  Troccoli, que faz parte desta lista de absolvidos, era um dos militares responsáveis pelos interrogatórios – sob tortura – do Fusna e hoje vive em Battipaglia, pequena cidade do sul da Itália. A defesa do ex-militar diz que ele não tem envolvimento com os casos.

A sentença da apelação deve sair no dia 8 de julho.

Durante a longa audiência desta segunda, que começou às 9h30 da manhã e terminou às 17h10, falaram todos os defensores do caso. “Demonstramos com provas concretas, depositadas na apelação, que Troccoli era o responsável pelo Fusna e mostramos o envolvimento do Fusna com o Esma (serviço de inteligência argentina)”, diz Andrea Speranzoni, advogado de defesa do Estado uruguaio.

“Troccoli é um ponto chave daquele período”, argumenta o advogado, que indica a possibilidade de a Corte condená-lo por assassinato e também por sequestro agravado de pessoas (pelo fato de ser um sequestro coletivo, a partir do qual houve mortes). Neste caso, não haveria prescrição.

Condor como os nazistas

Speranzoni comparou os crimes da Operação Condor com os crimes nazistas. “A partir do momento em que o mundo soube dos campos de extermínio dos nazistas, disse-se que ‘nunca mais’ aconteceria. Era 1945 e os crimes nazistas estavam sendo julgados no tribunal de Nuremberg”, diz.

“Os princípios de crime contra a humanidade entram no direito internacional e eram conhecidos pelas autoridades do Chile, Uruguai, Argentina e de todos os países onde foram cometidos na América do Sul. Trinta anos depois do nazismo, foram propostas novamente, em outro continente, em dimensões menores, mas igualmente terríveis, as mesmas dimensões de tortura e horror que a Europa havia repudiado”, diz Speranzoni.

“O que aconteceu na América Latina pode ser chamado de ‘crimes de indiferença relacionados ao terrorismo de Estado’”, cita o italiano. “Primeiro mataremos os subversivos, depois os colaboradores e, por último, os tímidos”.

Speranzoni lembra o caso de Juan Josè Montiglio, jovem de origem piemontesa, socialista, membro da escolta pessoal do presidente chileno Salvador Allende, uma das vítimas de Augusto Pinochet. Montiglio e outros prisioneiros foram levados para o regimento Tacna que fica em Maipú, onde foram torturados e, sucessivamente, para um terreno vazio, onde tiveram que escavar as próprias fossas e foram assassinados. Seus corpos foram jogados nas valas e explodidos para que não fossem reconhecidos.

O que restava de sua ossada foi encontrada e reconhecida através de exame de DNA em maio de 2017, poucos meses após a sentença de primeiro grau.

Janaina César

Ópera Mundi