Um relatório publicado esta sexta-feira pela UNICEF revela que as crianças e os adolescentes “vivenciam a violência em todas as fases da infância e da adolescência, em diversas configurações, e frequentemente pelas mãos de pessoas em quem confiam e com quem interagem diariamente”.
De todos os países na região, as maiores taxas de mortes registam-se na Síria (327,4 para cada 100 mil pessoas da mesma faixa etária), Iraque (122,6), Afeganistão (49,4), Sudão do Sul (29) e República Centro-Africana (18,9).
De todos os países na região, as maiores taxas de mortes registam-se na Síria (327,4 para cada 100 mil pessoas da mesma faixa etária), Iraque (122,6), Afeganistão (49,4), Sudão do Sul (29) e República Centro-Africana (18,9).
Os dados fazem parte do relatório intitulado Um rosto familiar: A violência na vida de crianças e adolescentes, que procedeu a uma atualização dos dados para “esclarecer quatro formas específicas de violência: violência disciplinar e exposição à violência doméstica durante a primeira infância; violência na escola; mortes violentas de adolescentes; e violência sexual na infância e na adolescência”.

Para a organização, o problema crucial é que a violência “é muitas vezes tida como necessária ou inevitável” quando se trata de crianças ou adolescentes, sendo “tacitamente aceite devido à proximidade dos autores, ou minimizada como algo que não tem consequências maiores”.

E alertam que “a memória ou a denúncia de violência” pode ser “enterrada devido à vergonha ou ao medo de represálias”, num ciclo onde a “impunidade dos autores” e a exposição prolongada à violência pode normalizar a mesma, “dificultando a sua prevenção” e “superação”.

Disciplina violenta e violência doméstica

Segundo a UNICEF, aproximadamente 300 milhões de crianças de 2 a 4 anos em todo o mundo sofrem, regularmente, disciplina violenta por parte dos seus cuidadores. 250 milhões (seis em cada dez) são punidas com castigos físicos.

Segundo os dados recolhidos em 30 países, seis em cada dez crianças entre 12 e 23 meses de idade são submetidas a uma disciplina violenta. Entre essas crianças muito pequenas, quase metade sofre castigo físico e uma proporção similar está exposta ao abuso verbal.

As crianças são muitas vezes expostas também à violência doméstica sobre a mãe, com uma em cada quatro crianças menores de 5 anos (176 milhões) a viver num agregado onde a mãe é vítima de violência doméstica.

Em todo o mundo, 1,5 mil milhões de encarregados de educação (ou um em cada quatro) dizem que o castigo físico é necessário para criar ou educar adequadamente as crianças, e apenas 59 países adotaram legislação que proíbe de forma definitiva o uso de castigos físicos contra crianças em casa. Ou seja, existem 600 milhões de crianças menores de 5 anos sem qualquer proteção legal.

Violência sexual na infância e adolescência

Em 38 países, aproximadamente 17 milhões de mulheres adultas relatam experiências de sexo forçado na infância. Nos 28 países europeus, cerca de 2,5 milhões de mulheres jovens relatam violência sexual antes dos 15 anos de idade com e sem contacto.

Em todo o mundo, cerca de 15 milhões de raparigas adolescentes entre os 15 e os 19 anos foram vítimas de sexo forçado ao longo da vida, 9 milhões das quais sofreram abusos durante a infância.

Os autores de abuso sexual mais frequentemente denunciados são amigos, colegas de turma e os próprios namorados das vítimas. Apenas 1% das adolescentes vítimas de abusos sexuais procuraram ajuda profissional.

Violência na escola

Em todo o mundo, cerca de 130 milhões de estudantes entre os 13 e 15 anos sofrem bullyiing regularmente. E cerca de três em cada dez jovens e adolescentes em 39 países da Europa e da América do Norte (17 milhões) admitem ter praticado bullying contra outros na escola.

Aproximadamente 500 ataques ou ameaças de violência contra escolas foram registados em 2015 apenas em 14 países, com 59 tiroteios registados em escolas (três em cada quatro ocorreram nos Estados Unidos da América).

Metade da população de crianças em idade escolar – dos 6 aos 17 anos -, cerca de 732 milhões, vive em países onde o castigo físico na escola não é totalmente proibido.

A adolescência como perigo de vida

Segundo a UNICEF, a cada 7 minutos, uma criança ou adolescente – com idade entre os 10 e os 19 anos – é morto em consequência de um ato de violência. Apenas em 2015, 82 mil adolescentes morreram em todo o mundo.

Jovens com idades entre os 15 e os 19 anos são particularmente vulneráveis, tendo três vezes maior probabilidade de morrer violentamente do que as crianças e os adolescentes mais novos.

Mais de 70% dos adolescentes que morreram em 2015 devido à violência coletiva vivam no médio oriente ou norte de África, apesar de apenas 6% da população mundial de adolescentes viver nestas regiões. De todos os países na região, as maiores taxas de mortes registam-se na Síria (327,4 para cada 100 mil pessoas da mesma faixa etária), Iraque (122,6), Afeganistão (49,4), Sudão do Sul (29) e República Centro-Africana (18,9).

Para as raparigas, Síria (224,1), Iraque (84), Afeganistão (34,2) Sudão do Sul (15,9) e Somália (10,1) são os países que concentram a maior proporção de mortes resultantes de conflitos e violência coletiva.

Nos Estados Unidos da América, a taxa de homicídios de adolescentes não hispânicos negros é 19 vezes maior do que a taxa de homicídios de adolescentes não hispânicos brancos. Em 2015, o risco de ser morto por homicídio para um adolescente negro nos EUA foi maior do que o risco de morrer devido à violência coletiva em vários países afetados por conflitos.