Desde dezembro do ano passado que as forças da Junta Militar que governa Myanmar a ferro e fogo têm vindo a atacar as aldeias dos bayingyis, afetando dezenas de milhares de pessoas. Os bayingyis de Myanmar são considerados lusodescendentes e pedem ajuda a Portugal.
.
.
Lamno: o povo de olhos azuis da Indonésia que descende de portugueses | Vortex Magazine | lusofonias.net
.

.

Desde dezembro do ano passado que as forças da Junta Militar que governa Myanmar (antiga Birmânia) a ferro e fogo têm vindo a atacar as aldeias dos bayingyis, afetando dezenas de milhares de pessoas com 300 casas destruídas à bomba e muitos mortos, feridos e refugiados. A força repressiva dos militares abate-se, particularmente, sobre as etnias minoritárias, que professam outras religiões, incluindo a católica, como os bayingyis que são pró-democracia e não aceitam a ditadura.

Os bayingyis de Myanmar são considerados lusodescendentes e pedem ajuda a Portugal numa altura em que são ferozmente perseguidos pelos militares. A própria Associação Internacional dos Lusodescendentes (AILD) diz que está em curso um genocídio desta minoria.

Em janeiro passado os militares saquearam uma aldeia, destruíram as habitações, mataram todo o tipo de animais domésticos, aprisionaram doentes e idosos e fizeram vários mortos. No mês de maio os militares incendiaram 22 casas e destruíram as colheitas. As imagens e cúpulas das igrejas ficaram com buracos de bombas. Muitas pessoas tiveram de fugir das suas aldeias para não serem torturadas e assassinadas.

Segundo a AILD os bayingyis têm muito orgulho em ser portugueses, embora a maior parte desconheça onde fica Portugal. A palavra bayingyi deriva da expressão árabe “fheringi”, que designava uma qualquer pessoa europeia. Os bayingyis encontram-se, atualmente, fixados no norte do país. São descendentes de soldados e aventureiros portugueses que no século XVI lutaram nos reinos da antiga Birmânia. De soldados passaram a camponeses e mantiveram o culto católico.

Além do catolicismo, outras características identitárias dos byingyis são os seus traços ocidentais com olhos verdes ou azuis, a pele mais clara, narizes proeminentes e corpos mais peludos que a população birmanesa. Em alguns locais é comum cantarem em português e mantêm a tradição de fazer chouriços.

Até ao ano de 1970 o governo não reconhecia a comunidade bayingyi como população birmanesa, sendo considerada estrangeira pela sua semelhança aos europeus. Estima-se que esta comunidade atinja, nos dias de hoje, cerca de meio milhão de pessoas num país predominantemente budista.

Com a expansão ultramarina para o Oriente Portugal deixou heranças em várias aldeias do interior da Birmânia, onde se destacam os soldados exploradores Salvador Ribeiro de Sousa e Filipe de Brito de Nicote, que ali chegaram há quatrocentos anos e cuja identidade persiste nos dias de hoje. A República da União de Myanmar, antiga Birmânia, situada a sul da Ásia continental e limitada a norte e nordeste pela China, a leste pelo Laos, a sudeste pela Tailândia, a sul pelo Mar Andamão e pelo Canal do Coco, a oeste pelo Golfo de Bengala, exibe ainda marcas da presença dos portugueses na Ásia, como seja a comunidade dos bayingyis.

Portugal condenou o golpe em Myanmar perpetrado pelos militares em 1 de fevereiro de 2021, considerado uma violação flagrante da vontade da população, expressa nas eleições gerais de 8 de novembro de 2020. Não há conhecimento de que o nosso país tenha ido mais além, tomando medidas e denunciando nas instâncias internacionais, como na União Europeia e na ONU, a situação dramática em que vivem atualmente os lusodescendentes bayingyis, vítimas de genocídio às mãos da ditadura militar de Myanmar. É o que se impõe, com urgência. Tanto mais que esta comunidade está a pedir ajuda a Portugal.

Esquerda.net