A ministra alemã da Defesa anunciou a dissolução de uma das quatro unidades de elite militar do país, após a descoberta de roubo de armas e parafernália nazi em casa de um dos comandantes. 600 militares estão sob investigação.
                                Tropas do KSK no deserto em 2004. Foto Bundeswehr/PIZ Heer

 

Numa das propriedades de um sargento-mor ao serviço do Comando de Forças Especiais (KSK) há quase 20 anos, foi descoberto em dezembro um autêntico arsenal de armas roubadas, a par de parafernália nazi. A investigação do Serviço alemão de Contrainteligência Militar partiu de uma denúncia sobre a influência crescente de elementos neonazis no seio de algumas unidades militares.

A comissão de inquérito que se seguiu concluiu que “o KSK não pode continuar como até aqui”, afirmou a ministra Annegret Kramp-Karrenbauer esta quarta-feira, anunciando a dissolução de uma das quatro unidades.

Quanto às três restantes, terão um prazo até outubro para rever as suas formas de recrutamento, formação e práticas de liderança, de forma a que possam voltar a participar em missões internacionais.

Entre as conclusões a que chegou o inquérito, está a de que existe no KSK “um elitismo insalubre” e “uma liderança tóxica” que “desenvolveu e promoveu tendências extremistas” entre os seus membros. Tendências que já eram bem conhecidas da opinião pública, desde que foi noticiada há três anos uma festa em que os militares ouviam bandas neonazis e faziam a saudação nazi.

 

O próximo passo da investigação passa por perceber qual a dimensão desta rede de extrema-direita no mundo militar alemão. Para a ministra da Defesa, “a probabilidade de isto não serem apenas casos isolados mas terem ligações entre si é evidente e tem de ser investigada a fundo”. Para além da mudança na seleção dos candidatos ás forças especiais, outra medida irá limitar o número de anos de serviço a cada elemento.

Outra das conclusões do relatório entregue ao governo foi a de que parte do KSK agia fora da cadeia de comando militar, “sob a influência de um entendimento pouco saudável do elitismo por parte dos diferentes líderes”. Ao New York Times, o presidente da contrainformação militar alemã afirmou ter sob investigação cerca de 600 militares, 20 dos quais do KSK. Estes soldados “têm capacidades e competências especiais e um sentido de lealdade bem apurado. Uma mentalidade destas pode acarretar riscos”, diz Christoph Gramm, cujo serviço tem sido criticado ao longo dos anos por ter falhado em identificar o crescimento da ameaça neonazi na instituição militar.

 

Manifestação contra a extrema-direita em Erfurt. Fevereiro de 2020.

Outra das preocupações do governo foi perceber a extensão do roubo de armas dos paióis alemães e depressa descobriu que eram muitas as que faltavam: 62 quilos de explosivos e 48 mil munições a menos na lista das forças especiais. “Será que temos células terroristas dentro das nossas forças armadas? Nunca pensei fazer esta pergunta, mas agora acho que é preciso”, afirmou o deputado conservador alemão Patrick Sensburg, da comissão que supervisiona o sistema de informações e antigo líder da associação de miitares na reserva, citado pelo New York Times.

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