Durante o período mais crítico da mais recente mobilização palestiniana centenas de conteúdos foram bloqueados pelas redes sociais. Simples fotos ou vídeos que mostravam as consequências dos bombardeamentos israelitas não puderam ser vistos. A empresa reconhece mas diz que os “problemas” com o algoritmo não resultaram de censura.

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Imagem contra a censura do Facebook à luta palestiniana. Foto de Jewish Voice for Peace.
                          Imagem contra a censura do Facebook à luta palestiniana. Foto de Jewish Voice for Peace.

 

As críticas sobre supressão de conteúdos em defesa da Palestina em várias redes sociais já eram conhecidas. Mas desta feita foram trabalhadores do próprio Facebook que, numa carta aberta publicada na página interna da empresa na passada terça-feira, colocaram o dedo na ferida.

Os cerca de 200 trabalhadores escreveram na carta que foi depois divulgada pelo Financial Times que “como sublinharam os trabalhadores, a imprensa e os membros do Congresso (…) os nossos utilizadores e a comunidade no seu conjunto têm o sentimento que não mantemos a promessa de proteger a liberdade de expressão sobre a situação na Palestina”.

No texto pede-se uma auditoria externa sobre as medidas que são aplicadas na rede social relativas ao conteúdo “árabe e muçulmano” e que se crie um grupo de trabalho interno para “inquirir e tratar uma parcialidade potencial” nos sistemas de moderação.

Apela-se ainda à contratação de mais palestinianos e à publicação de dados sobre “pedidos de supressão de conteúdo apadrinhados pelo governo.”

Uma luta apagada das redes sociais

Para além do Facebook, o mesmo enviesamento acontecerá no Instagram, rede que também pertence à mesma empresa. À AFP Eyad Rifai, diretor do Sada Social Center, conta que se bloquearam funcionalidades como a difusão de vídeos em direto, se limitou o acesso a conteúdos e mesmo se fecharam contas a várias pessoas que fizeram publicações sobre a situação em Cheikh Jarrah, o bairro de Jerusalém Leste do qual o governo israelita ameaçou expulsar palestinianos, a situação que despoletou as primeiras manifestações da mais recente vaga de mobilização. À mesma agência noticiosa, o Facebook justificou-se que se tratou de “um problema técnico geral”, ou seja teria havido “um bug técnico que afetou as stories, destaques e arquivos de milhões de pessoas no mundo”.

O France 24 dá o exemplo da jovem Alaa Tramsi que declarou que os seus conteúdos sobre Gaza foram “sistematicamente suprimidos” e que “uma simples hashtag #FreePalestine é assimilada a um comentário odioso pelo Instagram” e da professora Rawan El Shawa que publicou várias fotografias e vídeos onde mostrava as consequências dos bombardeamentos, apenas as suas duas primeiras publicações ficaram disponíveis, depois disso os amigos já não as podia ver e acabou mesmo recebendo uma mensagem de aviso por parte do Facebook.

A ONG palestiniana 7amleh contabilizou, entre 6 e 19 de maio, cerca de 500 conteúdos apagados pelo Instagram e Facebook e 55 bloqueados pelo Twitter. Os seus responsáveis salientam a diferença de tratamento entre publicações pró-Israel e pró-Palestina. “As primeiras não são censuradas, ainda que contenham incitações à violência” diz Mona Shtaya. As segundas mesmo que se limitem a “documentar violações dos direitos humanos” são “censuradas e sobre-moderadas”.

O algoritmo mudou

A 30 de maio, segundo o Financial Times, o Instagram acabou por modificar o algoritmo. E, no dia seguinte, o Facebook afirmou que tinham havido “problemas” sem nunca reconhecer que houve censura.

À France 24, um porta-voz da empresa disse lamentar por quem “pensou que não podia chamar a atenção sobre acontecimentos importantes ou que pensou que se tratava de uma supressão deliberada da sua voz”, garantindo que as suas políticas são aplicadas “de maneira igual, não importa quem publique ou quais as suas convicções pessoais”.

esquerda.net